ITA: um terço dos aprovados são de Fortaleza. Bom sinal. Ou não.

Ceará se destaca como estado que mais aprova no ITA e no IME, diz a notícia. Cearenses comemoram e se envaidecem, outros questionam quantos de escolas públicas passaram, etc. Alguns mais abnegados, se incomodam com os questionamentos e perguntam: "por acaso não há cursos preparatórios para ITA e IME em outros estados?". Esta pergunta foi um gatilho pra mim. Respondo: Há pouquíssimos cursos específicos pro ITA e IME fora do Ceará. Quase não há cultura de vestibular para esses institutos fora do estado. 

Sou do CE e moro na Bahia. Os baianos, por exemplo, não estão nem aí pra esses vestibulares militares. Fora daqui preferem USP, UNICAMP, UNIFESP. E passam. Todos os anos. Em Fortaleza, as redes FB e SAS conseguiram, ao longo de décadas de propaganda massiva, introjetar na mentalidade da classe média de Fortaleza que passar no ITA e IME significa maior qualidade educacional, quando, na verdade, o que há é um verdadeiro treinamento militar para passar nesse tipo de prova. Com as virtudes, mas, principalmente, com os traumas que esse tipo de processo de ensino implica. Muito semelhante à educação "bancária" (vide Paulo Freire). 

Também basta olhar a quantidade de candidatos por estado pra entender que os resultados refletem uma proporção e não uma superioridade intelectual. Por causa da propaganda acima relatada, há muitíssimo mais cearenses inscritos que de qualquer outro estado nesses vestibulares (exceção a SP, claro), inclusive alguns com pouco ou nenhum interesse real nesses institutos, mas financiados por esses grupos educacionais porque veem, nesse ou naquele aluno, potencial para alcançar boas colocações e saírem nas propagandas de outdoor. Tudo medido e cosmeticamente planejado. Enfim, sob certo ponto de vista, treinar adolescentes e jovens para passar no ITA e IME não diz muito sobre ensino forte e, sim, sobre como se deforma um processo educativo em nome de resultados. 

O velho dilema dos fins que justificam os meios. Não justificam.

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