Por que não se irritar com os ataques à Campanha da Fraternidade Ecumênica 2021?

Nem houve o evento de lançamento, que será quarta de cinzas, mas grupos articulados e indivíduos desorientados (ou orientados?) se rebelam contra a Campanha da Fraternidade Ecumênica 2021 em razão de sua mensagem ecumênica e inclusiva. Ancorados em crenças fundamentalistas, se voltam contra a CNBB, bispos e padres que assumem a CFE como caminho de vivência da Quaresma. 

Objetivamente, os ataques, de origem ideológica, com toda sorte de fakenews e falta de espírito ecumênico apontam dedos para um único parágrafo (n. 68) do texto base que - num contexto de leitura do Atlas da Violência no Brasil - se posiciona em alerta e defesa de grupos LGBTQIA+ como principais vítimas de homicídio no Brasil, nos últimos anos. Por causa dessa única citação, fanáticos gritam "ideologia de gênero", uma categoria que inexiste nas discussões da academia, mas mobiliza hordas de reacionários e reacionárias desde seus rincões. Também vociferam, com intensas doses de misoginia, contra Pastora Romi (Igreja Luterana), coordenadora da CFE desse ano. Mentem, como lhes caracteriza: sem pudor. Baseados em nada. Sobre a vida e ideias da reverenda.

Apesar de tudo, brisas de ar fresco parecem aliviar esse clima beligerante infernal. Não é novidade que as campanhas ecumênicas sofram muita resistência. Há relatos duríssimos da CFE de 2000, a primeira. Diferente de outros anos, no entanto, parece haver chance de que os ataques empregados por setores sectários da Igreja, bispos e padres incluídos, acabem virando um tiro no pé. Em que pese o projeto político hegemônico ainda ser de viés conservador, é inegável que setores majoritários da Igreja já se convenceram do desastre moral e mortal que seria acompanhar, ou mesmo se omitir diante desse quadro de necropolítica instalado pelo atual mandatário do país.  

Cidadãos não vinculados à religião e cristãos não-fideístas (fanatizados por suas crenças em lugar da fé) notam a mobilização ao redor da CFE e começam a desconfiar da gritaria dos seus detratores. Percebem um padre Júlio Lancellotti segurando o cartaz, um dom Odilo Scherer, conservador acima de qualquer suspeita, dizendo que usam a ideologia pra acusar ideologia ou um padre Juarez de Castro, reconhecido admirador da estética romana do catolicismo, falando em católicos que espalham os vídeos estão pecando contra a unidade da Igreja. Todos argumentando pela comunhão, pela paz, pelo diálogo, enquanto do outro lado prevalece o ódio como conteúdo das manifestações, mesmo quando disfarçadas de ponderadas, não escondem o incômodo com obviedades defendidas pelo texto base, como a memória de Marielle Franco, vereadora executada no Rio de Janeiro, há mais de 1000 dias, caso ainda sem solução.

No circuito mais caseiro, todos os posts da CFE que foram veiculados por essa humilde página @naraçaenapaz nas redes sociais tiveram alcance pelo menos cinco vezes maior que a média. Incrementou inscritos do Youtube, seguidores no Instagram, na página do Facebook e até em nosso humilde Twitter. Detratores geram engajamento e chama atenção de parceiros. Essa tem sido a lógica até então.

Mesmo assim, a gente que serve a Igreja há tanto tempo na esperança de que ela avance (e ela vai devagarzinho) realmente chega a ter vontade de assumir um tom beligerante contra esse povo. E uma fala denunciativa não está fora de questão. Faz parte. Mas hoje aprendi algo que preciso levar comigo toda vez que meu fígado quiser se impor ao meu cérebro, quando o assunto for esse tipo de detrator da CFE: 
"Não é inimigo meu, mas é inimigo dessa proposta" (Carmen L. Teixeira)
Como assimilei? Assim: não preciso pegar essa raiva pessoalmente para mim, nem quero que contamine meu corpo, minha alma, minhas ideias. Não posso alimentar esse ciclo de ódio. Preciso entender que não se trata de inimigos meus, mas da proposta. E isso acaba girando o eixo de percepção e fazendo diferença suficiente pra que eu não caia na armadilha de me igualar aos que eu denuncio. 

Seria realmente um desastre. Deus que me livre.

Bora dialogar?

Na Raça & Na Paz d'Ele,
J. Braga.


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