Bolsonaristas e a negação da realidade - Prof. Wilson Gomes (UFBA)
Surpresos por que os seus amigos ou parentes bolsonaristas negam com plácida convicção a responsabilidade de Jair Bolsonaro nas cem mil mortes? Não fiquem. Era de se esperar.
É só o mais recente episódio de denegação do que é cognitiva e emocionalmente dissonante dos sentimentos e crenças da seita.
A dissonância cognitiva acontece quando a gente entra em contato com informações que não satisfazem o arrumadinho dos nossos desejos, valores e visões das coisas, quando relatos se chocam com nossas crenças e esperanças. A dissonância gera sofrimento, dor narcísica, frustração e angústia. O normal é fugir dela, e o recurso para tanto é manobrar o ceticismo e fé. Para evitar a dissonância cognitiva, um bolsonarista típico vai alternar entre o ceticismo mesmo ante o que é mais evidente ("Bolsonaro nada tem a ver com as mortes") e uma crendice desarmante ("a cloroquina teria resolvido a poha toda").
À raiz de tudo, um forte senso de pertencimento tribal. O bolsonarismo é um identitarismo, como tantos outros à esquerda, baseado em intensa compactação interna (ninguém, efetivamente, larga a mão de ninguém), defesa dogmática das crenças compartilhadas pela comunidade (credo quia absurdum), confiança em níveis desconcertantes na infalibilidade e onisciência do líder (se Bolsonaro disser que a Lei da Gravidade é uma invenção da esquerda eles sairão voando), desconfiança de todos os que estão do outro lado do muro ("todas as instituições já estão dominadas pela esquerda") e vitimismo ("opressão estrutural e sistêmica dos inimigos da Verdade").
Rá! A coisa é muito mais séria do que supõe a vossa sã filosofia.
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