Identidade e reputação não podem se confundir - Moysés Pinto Azevedo*
Depois de dois meses de volta às redes, já sinto novamente os picos de ansiedade, euforia e depressão que conformam a montanha-russa que se tornaram esses dispositivos skinnerianos em que nos enfiamos.
As plataformas vivem de alimentar um estímulo-brinde -- a curtida, a compartilhada, o follow, a visualização -- e nós rapidamente, como ratinhos de laboratório, corremos atrás. Não é uma questão moral.
Eles tocam na infraestrutura do nosso psiquismo, em níveis que não adianta reagir conscientemente. Você pensa: "não, não vou cair na armadilha de ficar ansioso e/ou deprimido por isso e isso", mas não adianta: quando pensou, já caiu na armadilha.
Ao mesmo tempo em que produzem a euforia, a sensação de vazio da experiência é imensa: você desliza as telas e mais telas e tudo parece nivelado, com o tempo o que é escrito se torna irrelevante e repetitivo. O mesmo vazio sentido pelos usuários problemáticos de substâncias psicoativas. Entrar é ruim, sair é impossível.
Você tenta se diferenciar: na verdade, vai ficando mais agressivo, implicante, suplicante, entre outros estados comuns, porque está possuído pela dinâmica das redes. Sempre está devendo algo, sempre está em busca de mais e mais popularidade. É porque sua identidade é sua reputação -- e ela só é confirmada na medida em que você a expõe se diferenciando dos demais.
Assim vamos na escalada em que de um lado temos plataformas lucrando aos montes com a extração da nossa identidade e de outro nosso corpo sentindo o caráter tóxico dessa circulação compulsiva.
*Texto de seu perfil no Facebook.
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