A MENTIRA COMO MÉTODO

Na tradição cristã, o PAI DA MENTIRA é o diabo. O ser humano inventa mentiras pra se impor, geralmente pelo argumento falacioso. Muitas vezes ele não pretende vantagens propriamente pessoais, apenas deseja ver sua percepção de mundo, aquilo que é bom e o que é ruim, por exemplo (obviamente nossa percepção de mundo tende a nos situar em alguma superioridade moral), confirmada por ideias, mesmo que não se fundamentem em fatos ou dados da realidade.

No bolsonarismo, mentir é o principal método de comunicação política. O bolsonarista mente porque tem a crença de que assim se impõem bloqueios ao comunismo, a esquerda, a degradação moral da sociedade. Ele acredita que, assim, impõe-se a família tradicional, a ordem e a liberdade individual. Ou seja, mente-se, dissemina-se fakenews como um antídoto contra o mundo em que o branco, heterossexual, capitalista e de cultura eurocêntrica/estadunidense, não percam seu status hegemônico. O bolsonarista pode não carregar todas essas características consigo (podem ser gays, negros, corruptos, pedófilos, hipócritas, adúlteros, assassinos, etc.) mas essas são as crenças que organizam o mundo pra ele, com uma ou outra variação. Pois bem, essas crenças têm viés teológico. Pro bolsonarista são sagradas! Sem elas o mundo deles desaba e eles ficam perdidos, desorientados. O problema é que, desde a época de Jesus (na verdade desde os profetas do Antigo Testamento), há uma ferrenha crítica às visões teológicas excludentes e discriminatórias. Discurso solenemente ignorado ou deturpado pelas odes herdeiras do farisaísmo, que falavam uma coisa e faziam outra. Preciso lembrar de 28 anos de desvio de dinheiro público, corrupção mesmo, nas "rachadinhas" de Bolsonaro?! Como se não bastasse, ainda colocando os filhos no mesmo esquema? Não né?! Por favor.

Tudo isso pra dizer que: para bolsonarista reconhecer que mente, ele, antes, tem que abandonar sua crença sobre o que é o "bem" e o que é o "mal". Mas vocês concebem alguma forma de crença mais cristalizada que essa relação, na vida das pessoas?

Entre os jovens bolsonaristas essa tarefa é menos complexa porque trata-se de uma fase de consolidação de convicções. Os jovens observam e são capazes de verificar que os fatos não condizem com os argumentos. Não sem sua teimosia característica, nariz empinado ou coisa do tipo, são mais inclinados a admitir mudanças de opinião. É a faixa etária com menos bolsonaristas e mais antibolsonaristas, segundo pesquisas.

Agora, esperar que senhores e senhoras de meia idade abandonem suas crenças?! Pra alguns é como exigir que percam ou modifiquem sua identidade. Não adianta. A não ser uma fatalidade ou trauma abrupto pra conseguir mover as placas tectônicas desse tipo de crenças ali enraizadas.

Bolsonaro é o pai da mentira assim como o demônio. Mas enquanto a mentira for conveniente, algumas pessoas não se incomodarão de seguir crendo, muito menos de tentar impô-la sobre os outros, espalhando fakenews à rodo. Sem falar que a virtude do mentiroso é falar aquilo que as pessoas querem acreditar. Bolsonaro só deu vazão ao que porções da população achavam, tirando vantagem pessoal, claro.

O problema da mentira não é só seu pai. São seus filhotes. Ignorantes e motivados pelo que eles consideram um "bem".

Na Raça & Na Paz,

J. Braga