Reflexões sobre a tragédia de Goiânia - Cid Benjamin

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Pessoal, é preciso mais humanidade e menos ímpeto acusatório diante dessa tragédiaocorrida na escola de Goiânia. Como se sabe, nela, um adolescente matou dois colegas e feriu outros tantos, usando a pistola de um de seus pais, ambos da PM.

É preciso ter claro que todos, absolutamente todos, os envolvidos no caso são vítimas.

Vejamos por partes.

Compreender que são vítimas os mortos e feridos no episódio é muito fácil. É algo imediato.

É, também, fácil compreender que seus pais e parentes igualmente são vítimas.

Mas é preciso não parar por aí.

O menino que teria sido alvo de “bullying” e, num gesto de descontrole e insanidade, atirou nos colegas, também é vítima.

Vamos botar a mão na consciência. O moleque tem apenas 14 anos. O que será de sua vida daqui em diante? Provavelmente ele estará marcado pela sociedade.

Não bastasse o estigma, provavelmente também guardará esse trauma até o fim de seus dias.

Pois amigos meus, queridos, têm se referido ao garoto como “bolsonarinho”. Isso porque ele, em algum momento, teria feito elogios ao deputado fascista.

Menos, gente.

Ou será que vamos fazer como nos Estados Unidos, onde crianças são condenadas à prisão, como se adultos fossem?

Antes de endossar o mar de acusações ao adolescente que atirou, é bom recordar as palavras do pai de um dos alunos mortos, que, num gesto de grandeza humana, o perdoou, recusando-se a se somar aos que o lincham.

E as vítimas não param por aí. Há outras.

Imaginemos – por um instante que seja - como estarão os pais do menino que atirou. Imaginemos seu drama. Como será ver um filho querido como protagonista de um episódio assim?

Pois bem, pai e mãe do garoto são policiais militares. E, como se não bastasse a tragédia que assolou as suas vidas, estão também entrando no rol dos acusados. O que se diz é que não teriam sabido guardar, escondida e segura, a arma do crime. Com isso seriam parcialmente culpados pelo acontecido.

Sou filho de um oficial do Exército que, como qualquer dos seus colegas, tinha em casa uma pistola. Ela não ficava à vista (como também não ficava nesse caso de Goiânia), mas, tanto eu, como meus dois irmãos, sabíamos onde era guardada.

Condenar os pais porque o filho encontrou a pistola é aumentar seu drama. Vamos nos colocar no lugar deles por um instante que seja.

Isso é desumano.

Estamos diante de uma enorme tragédia. Mais do que sair acusando A, B ou C, é preciso refletir sobre a cultura da violência na sociedade (da qual faz parte o próprio bullying, diga-se).

É preciso estender a mão aos envolvidos – a todos eles – e buscar soluções e propostas que tornem menos frequentes situações como esta.

Essa linha de conduta não é só mais humana.

É também mais eficaz.

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