Conheci Zoia Prestes

Zoia Prestes e Ir. Lúcio
Hoje conheci, pessoalmente, Zoia Prestes, filha de Luís Carlos Prestes, gaúcho, histórico personagem da política no Brasil, ex-senador pelo DF (quando ainda era o RJ) e um dos maiores militantes comunistas da América Latina (se você leu "comunista" e já se irritou, pode parar por aqui, esse texto não é apto a irracionalidades). A excelente formação que ela ofereceu foi sobre educação e o desenvolvimento humano a partir de Vygotsky, mas o que mais me marcou foi a sensação de ter um pouco de contato com a História. Viva. Ali, na minha frente. Falando.

Era simplesmente impossível que Zoia falasse sem tocar no nome de seu pai, revelar um pouco sua trajetória pessoal e familiar. E nos brindou com depoimentos maravilhosos. Luís Carlos passou mais da metade da vida entre exilado no exterior e clandestino no Brasil. Por causa da perseguição ideológica que sofria, a pequena Zoia e seus seis irmãos nunca puderam conviver direito com ele. Eram filhos de sua segunda mulher, Maria Prestes, após a morte de Olga, primeira esposa de Prestes, em campos de concentração na Alemanha nazista de Hitler. Pois bem. 

Apesar das visitas periódicas, foram todos ensinados a não chamá-lo de "pai" para esconderem suas identidades e, claro, não sofrerem retaliações da patrulha anticomunista. Ainda criança, Zoia também foi exilada com toda sua família. Foram parar na então União Soviética. Só lá, Zoia pôde chamar Luis Carlos Prestes, pela primeira vez na vida, de "pai". Ela tinha 7 anos. Viveu em Moscou por mais quinze, estudou na Universidade Estatal de Moscou, e se tornou fluente no russo. Quando voltou, já na década de 1980, não conseguia validar seus diplomas (por que será?) e teve que ganhar a vida fazendo traduções do russo para o português anos à fio. Até que, em 2005, finalmente conseguiu ingressar num doutorado. Virou doutora em Educação e é, provavelmente, a maior autoridade em Vygotsky No Brasil. 

Enfim, conhecê-la foi excelente não só pela formação que ofereceu ou pelos depoimentos que deu. O que não me escapou foi o contraste entre o que já li de rótulos contra comunistas e o que vi, ali, na minha frente. Ponderada, sorridente, acadêmica e, claro, dura nas críticas ao momento político do país. Mas sem perder a ternura. Jamás.

Fiquei tão reverente à mulher que até lembrei de tirar foto, mas fiquei quieto. Não sei explicar. A história...ela tem rosto, voz, densidade. 

Um misto de medo e encanto.

Na raça e na paz d’Ele,

J. Braga.

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