O GOVERNO DILMA SE TORNOU INDEFENSÁVEL. E A DEMOCRACIA?

(Um texto pra quem está insatisfeito com o governo Dilma, mas acompanha tudo desconfiando da Globo)

Passei 40 dias longe de facebook pra, entre outras revisões e discernimentos, perceber que não adianta defender Dilma, Lula ou partido político.

Com mais nitidez e sem o ruído estridente do Fla-Flu das redes sociais, escutei melhor muitas vozes, inclusive de pessoas boas do espectro político que não costumava acompanhar. Acho que consegui romper com alguns preconceitos impostos por aquelas figuras rasas e barulhentas admiradoras do Bolsonaro (não, nesse segmento não há novidades, infelizmente). Há liberais sérios e com propostas interessantes para o país. Estes não se confundem com o discurso fascista e preconceituoso como "mortadelas" e "gayzistas". Aliás, o rejeitam.

Devo admitir, agora, que muitas das opiniões políticas que emiti sobre a opositores - induzido pela barulheira - não se sustentam hoje.

Devo admitir que o governo Dilma 2 não tem assumido seu discurso de campanha e faz inflexões cada vez mais para o lado contrário ao que eu desejava ao fazer campanha e votar nela.

Devo admitir que o ciclo do PT se esgotou e precisamos de nova representatividade, a depender do que ocorra nas próximas semanas.

Devo admitir que Dilma, quando discursa espontaneamente, geralmente é um horror. Enfim.

Mas o muro não é o meu lugar.

E aqui quero me dirigir a quem acompanha com atenção o cenário político do país, mas sem manifestar-se.

Vivemos um daqueles momentos decisivos na história. O caminho que tomarmos a partir de agora vai definir nossa identidade como país nos próximos 20 anos, diretamente. Estou falando do ambiente que os meus filhos e os filhos de vocês serão criados.

A partir das próximas semanas, saberemos se a Democracia (o governo do povo), o Estado Democrático de Direito, terá sua legalidade preservada ou não. Numa democracia jovem como a do Brasil, é muito grave que se rompa a legalidade com o nítido impulso de uma mídia, que se acha dona do país, e uma Justiça explícita em sua parcialidade nas últimas semanas.

O juiz Sérgio Moro vinha muito bem até há pouco, mas a ilegal condução coercitiva de Lula (sem prévia intimação) e a mais ilegal ainda publicização das conversas da presidente da república, escancararam um juiz que se confundiu com promotor. Que revelou ter lado e, portanto, não faz justiça mas justiçamento. Não importa que os grampos não acrescentem nada aos fatos, essa foi uma ação política (não jurídica). Afinal, onde já se viu gravar uma conversa telefônica da presidente 14h e divulgá-la as 17h pelas mãos de uma TV historicamente comprometida com golpes de Estado, como o de 1964, e suporte da Ditadura Militar?!

O que está em perigo nesse momento não é mais o PT. O partido está frágil e será seguramente derrotado nas próximas eleições. Que seja! Mas que seja sem que haja rompimento da legalidade, pois sem respeito ao voto popular não há democracia. Dilma pode ser péssima gestora, pífia oradora, mas não pesa sobre ela crime algum. Nada do que prevê a Constituição se aplica a um processo de impedimento no caso de Dilma. Nem pedaladas, nem grampos, nem mandiocas. Nós podemos detestar a performance da presidente, mas não podemos aceitar um golpe ao Estado de Direito movidos por irracionalidades políticas. Isso pode jogar o país numa guerra civil com consequências imprevisíveis.

Fui à ultima manifestação do dia 18/03 de branco. Meu inconsciente e minha razão pedem paz! Mas só há paz sem virada de mesa. Se isso depender de mim, estarei lá dia 31/03. Não pela Dilma, nem pelo Lula, mas pelo futuro dos meus filho num ambiente político estável.

Passei 40 dias ponderando meus posicionamentos e relativizando minhas convicções. Entendi que, em política, nada pode ser absolutamente e eternamente defendido.

Só a democracia.

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