CF 2015: O serviço é o laço que vincula e possibilita a vivência em sociedade
Nesta semana encontrei uma vizinha que mora no mesmo prédio que eu, no elevador. Já a havia visto inúmeras vezes nas idas e vindas, subidas e descidas deste populoso condomínio cheio de prédios de 17 andares. Pelo menos é o que diz o painel do elevador, já que nunca parei pra contar. “Bom dia” e suas variáveis diuturnas tinham sido as máximas palavras trocadas com aquela simpática senhora de cabelo curto e pouca mobilidade, provavelmente pelo sobrepeso. Lá embaixo a aguardava um táxi. Na saída do elevador, duas bolsas mais volumosas que pesadas, começaram a ser carregadas por ela de uma forma claudicante. Perguntei se poderia ajudá-la. Um sorriso de consentimento e lá estou eu em menos de 2 minutos ajudando o taxista a acomodá-las no porta-malas do carro e escutando da simpática senhora:
“- Meu filho, muito obrigada. Sempre senti que você era uma pessoa boa. Vejo como você é dedicado a sua família, apesar de sempre discreto e tímido nos cumprimentos. Não sei como lhe agradecer sua imensa gentileza. Nossa sociedade está perdida. Precisa de mais pessoas assim como você.”
Foi um impacto. Imaginem minha cara de pateta, sem jeito com tamanha demonstração de gratidão. Foi desproporcional. No fundo, não me custou nada ajudar aquela senhora. As bolsas nem eram tão pesadas e eu já ia para o mesmo estacionamento. Na verdade, eu me perguntaria se alguma pessoa seria capaz de não ajudá-la numa mesma situação. Enfim, fiquei pensando dias sobre isto e agora estamos aqui, pois me lembrei de umas reflexões sobre a Campanha da Fraternidade 2015 (CF 2015), do professor Dr. Ricardo Mariz, que arremata: “O serviço é o laço que vincula e possibilita a vivência em sociedade”. Eureca! É isso!
A CF 2015 nos propõe refletir sobre o tema “Fraternidade: Igreja e Sociedade” e o lema: “Eu vim para servir” (Cf. Mc 10,45). O que me fez cair a ficha com o episódio daquela senhora, minha vizinha, teve íntima relação com estas intuições da Igreja. Uma sociedade dominada pela mera relação de viés comercial, ou seja, “eu pago e você faz o trabalho”. Ou, “eu presto melhor serviço para quem melhor me paga”, é uma sociedade fadada a se desintegrar e perder seu vigor. Segundo o texto-base da CF 2015 (p. 4), a palavra “sociedade” vem de socius e id. Id, idade, que diz da força, vigor; força e vigor do socius. Socius é o companheiro. A força que faz ser e deixa ser companheiro. Companheiros, os que, unidos pela mesma força e vigor, formam um grupo. Os que estão unidos pela mesma força e vigor formam a sociedade. As pessoas que têm a mesma pertença e buscam viver e conviver com um modo próprio de organização, formam uma sociedade. É a superação da mera relação comercial que garante a força e coesão daqueles que compõem uma sociedade. É quando todos participam do conviver e do decidir e não permitem que uma pessoa (ou milhões delas) seja excluída que se faz possível existir e persistir. E para nós, católicos inspirados pelo exemplo do Papa Francisco, é necessário se deixar guiar por valores fundamentais de Fraternidade, Justiça e Paz.
As pessoas também são as que recriam a sociedade. A propósito, esta é a essência da cidadania. Então, se é verdade que estamos imersos numa cultura de individualismo, consumismo e violência, somos nós, cidadãos e cidadãs, os primeiros responsáveis e capazes de recriar esta cultura. Pode ser que leve um tempo. Mas cada um precisa se perceber neste quadro social e buscar o que está a seu alcance, dar o melhor de si, sem presunções de herói. Pelo que aprendi, parece que basta começarmos a ser mais gentis.
Aliás, vou já atrás de saber o nome daquela senhora, minha vizinha.
Esqueci de perguntar o nome dela.
Na raça e na paz d’Ele,
J. Braga.
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