Todo santo Dia dos Pais
Tenho um filho de cinco anos e outro prestes a nascer: João Pedro e Guilherme, respectivamente.
João Pedro |
Esses dias, véspera de Dia dos Pais, conversava com algumas pessoas sobre como “ser feliz” virou um paradigma, um imperativo do sentido da vida. Parece que virou uma opinião unânime. A gente nasceu pra ser feliz e ponto. Você pergunta aos pais de um aluno novato o que eles desejam pra o filho na escola e não é incomum que digam: “- Eu só quero que ele seja feliz aqui.” A mesma resposta valerá se os pais respondessem sobre intercâmbio no Japão, a festa de aniversário ou o acampamento de férias. Quando se trata de falar o que os pais desejam para seus filhos, a senha é a mesma: alegria, gozo, desfrute e fruição. Trocando em miúdos, “que sejam felizes”.
Nada contra quem quer ser feliz. Eu também quero. Só que assim “felicidade” vira uma condenação. Em outras palavras: se você não é feliz neste exato momento, me desculpe querido, mas você é um fracassado. Sua vida é inócua e não vale sequer o oxigênio que está queimando. Pare de respirar, por favor.
Mas e o que ser feliz tem a ver com ser pai? Quase nada. Como assim? É isso mesmo. Ser pai tem mais a ver com esforço e dedicação do que com gozo e fruição. E é aqui que a gente ativa outras redes neurais para entender. Se ligue.
Quando João Pedro nasceu, tive um “insight” mais ou menos assim: ou eu supero minhas limitações, assimilo novas coisas ou não vou conseguir criar bem meu filho. Assim, vou ter que superar o nojo de cocô, aprender a trocar fralda, passar talco, dar mamadeira, fazer arrotar, acordar de madrugada pra acalentar choro, gastar uma grana preta com leite Nam, aguentar as músicas do Patati & Patatá e não escorregar naquelas armadilhas diabólicas dos carrinhos da hotwheels espalhados pelo chão da sala. Quem, em sã consciência, goza de alegria em limpar gofo de menino na camisa que estava limpinha, minutos antes de sair pro trabalho?! Alguém percebe nisso algum desfrute de felicidade?! Sejamos sinceros. Não, né?!
Pois é.
Guilherme |
Foi aí que as coisas foram ficando mais nítidas. Comecei a perceber que meu amor de pai me impulsionava a ser melhor trocador de fralda, melhor acalentador de choro, melhor limpador de gofo, ser paciente pra assistir o DVD da Galinha Pintadinha dezessete vezes, enfim. Tudo isso que era mesmo muito chato. Ser melhor em coisas assim, reparou a dinâmica?! Daí percebi que tudo estava implicado nessa experiência de amor gratuito e infinito. O encanto com os primeiros sorrisos e a insônia pelas noites mal-dormidas andavam de mãos dadas. Não dá pra chamar tudo de felicidade, mas fazia todo sentido o grau elevado de dedicação. Então, foi por tabela me esforçar por ser melhor esposo, melhor filho, melhor profissional, melhor cidadão, enfim. Melhor pessoa. Transformar-me no melhor ser humano que podia ser decodificou a realização da minha missão dentro de meu microcosmo existencial. É esse o sentido da vida, eureca! E não para nunca, reparem. Hoje, por exemplo, com João já mais crescidinho, sem fralda, gofo ou choro noturno, entendo que a melhor coisa que posso fazer por ele é cuidar bem da mãe dele. Grávida, inclusive.
Quer saber? É óbvio que quero ver meu filho alegre, contente, desfrutando a vida. Mas a maior lição que João me deu, vou replicar na educação dele, dizendo:
- Meu filho, você não nasceu pra ser feliz, mas pra buscar ser a melhor pessoa que você é capaz de ser. Felicidade é consequência disso. Esforce-se sempre, dia após dia.
Como pai, não me permito nada menos que isso.
Ser melhor todo santo dia.
Na raça e na paz Dele,
J. Braga.
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