JMJ Rio 2013 - Um registro singelo

O que mais fiz na JMJ: peregrinar
Depois de dois meses, acho que já dá pra contar como percebi a JMJ, a partir de alguns tópicos mais marcantes.

A abertura

Chegar à praia de Copacabana ainda às 10h, com nada menos que 6 horas de antecedência do início da abertura do evento, nos deu a possibilidade de captar o quão intensa é a dinâmica de uma Jornada Mundial da Juventude. No famoso calçadão, milhares de pessoas já circulavam com bandeiras e sorrisos. Sim, sorrisos. Muitos e intensos de meninas e meninos. Não havia fila pra comer, ir ao banheiro ou simplesmente chegar à areia que arrancasse aqueles milhões de lindos sorrisos daqueles rostos plurais, multirraciais. O simples ato de caminhar e, de vez em quando, cruzar com outro grupo mais numerosos de outro país já era suficiente pra disparar uma série de diálogos curtos, na língua que desse, na tradução do amor. Gritinhos de acolhida, amor a Cristo e às juventudes. Ah...e não podiam faltar os "cambios" e a foto, sempre com no mínimo 70 pessoas se espremendo em abraços como se se conhecessem desde que nasceram. De alguma maneira, talvez seja verdade. 

Um grito equivalente a um gol, encerrava aquele rito frenético de confraternização a cada 20 metros de calçadão. "Cansativo", alguém diria. Mas sabe que ninguém sentiu?! Quando menos esperávamos já era hora de ir pra areia, frente ao palco onde seria a cerimônia de abertura da JMJ. Aqui, para mim, o mais arrepiante: assim que adentramos à praia visualizei algumas dezenas de milhares de pessoas com uma infinidade de bandeiras de, talvez, 100 países diferentes, ao som de músicas de celebração. De arrepiar perceber tanta unidade em tanta pluralidade. Achamos nosso lugar na areia ao lado de tantas línguas que não consegui definir quantos países estavam ali do lado. Belgas, venezuelanos, franceses, italianos, argentinos aos montes, enfim. A ideia de transformação do mundo em uma morada melhor era sensível, assim como o amor gratuito que circulava entre aqueles jovens, cada um deles. 

Mas que foi frio, vento e chuva pra cada uma das 1 milhão de pessoas ali. Ah...isso foi. "A fé de vocês é maior que o frio e o vento. Parabéns!" [Papa Francisco]

O silêncio por Sophie

Sem dúvida, o melhor anúncio da mística a ser experimentada na JMJ Rio 2013: silêncio por Sophie. Tinha 15 anos, peregrina da Guiana Francesa morta em acidente de ônibus a caminho da JMJ e, no meio do primeiro discurso de Francisco, fez com que nos conectássemos pelo silêncio reverente e respeitoso. Naquele momento, ainda que não fosse fácil estar ligados às notícias da TV, todos sabíamos daquele acidente. Sim. Conhecíamos Sophie. Todos tínhamos clara noção do quão difícil foi conseguir chegar ao Rio. E ali nos convencemos que nunca deverá ser considerado natural ter a vida e os sonhos de uma jovem interrompidos de forma violenta.

Ressignificando a noção de "multidão"

Quem acompanhou a JMJ de longe deve ter se impressionado com os números. Altos. Da quantidade de peregrinos, passando pelo de kits-alimentação, até chegar à injeção de dinheiro na economia local. A propósito, 17 vezes foi o arrecadado em impostos em relação ao que foi investido. Goleada nos críticos. Para quem esteve lá, porém, a melhor forma de falar dos números podem ser, basicamente, três: 1) A condição para tentar ver Francisco de perto, na passagem do Papamóvel era: tirou seu pé do chão... Perdeu, playboy. Seu pé virou chão (o dos outros também); 2) Andando de metrô e nas estações subterrâneas, foi o seguinte: caminhando era feito pinguim, dentro do vagão era feito sardinha. E, finalmente, 3) a relativização do tempo versus vontade de fazer xixi: "ir ali fazer um xixizinho no banheiro e voltar" era coisa de uma hora e meia, por baixo. 

Nota de destaque pra vigília de sábado. Não havia meio palmo de areia pra mais ninguém. Nem no famoso calçadão de Copa, nem mesmo no asfalto. Nem andar era simples. Mas o amanhecer foi de cinema.

Caminhar: essência de ser peregrino

Peregrino caminha bastante, encontra gente querida (quase sempre sem querer) e aproveita pra tirar foto dos atrativos da cidade como o Teatro Municipal, Maracanã ou Jardim Botânico. Caminhando e cantando, enchendo o túnel que dá acesso a Copacabana/Botafogo na saída para os pontos de ônibus. Andaria tudo de novo [depois de descansar durante esse ano].

Os 3 milhões de Copacabana

Numa manhã de domingo absolutamente linda na praia de Copacabana participei, pela primeira vez na vida, de uma Missa presidida pelo Papa. Chorei várias vezes, mas os momentos mais emocionantes foram dois: 1) Quando baixaram centenas de bandeiras pelo espírito de comunhão. Aqui é bom fazer a ressalva: as bandeiras eram a marca registrada - quase identidade - dos milhões de peregrinos ali presentes. Pela bandeira se orientavam nas caminhadas no meio da multidão, pela bandeira demarcavam lugar na areia, pela bandeira se dividiram as paróquias em que eram feitas as catequeses, enfim. Pedir para "baixar as bandeiras" era muito mais que permitir aos que estavam atrás poderem ver. Era se permitir experimentar que, diante de Deus, nossa essência mais importante é a de irmãos, filhos do mesmo Pai. Ponto. E a outra foi 2) Quando 3 milhões de pessoas fizeram impressionantes 3 minutos de silêncio ABSOLUTO pra refletir as palavras do Papa na homilia. Não houve cachorro latindo, ambulante gritando, nem helicóptero sobrevoando. Nada manchou a mística desse fantástico silêncio. Até as pessoas que caminhavam na areia, nessa hora, pararam de caminhar. Me arrepia lembrar.

Despedida

Obrigado meu Deus por essa semana tão emocionante, marcante, desafiadora e cheia de bênçãos. Do Papa Francisco, passando pelas juventudes da terra inteira, até minha primeira vez no Maracanã vendo um jogo do Mengão, detalhe inesquecível. Mas, depois dessa maratona (literalmente) o que eu queria mesmo é voltar pra minha casinha, esposa e filho. Lá era preciso continuar minha primeira e mais importante missão da vida.

Não é mais possível a vida seguir sem que tenha sido afetada por essa fantástica experiência.

Na raça e na paz Dele,
J. Braga.

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