Vocação é pintar o mundo de uma cor que só você tem
Vocação: ainda existe? Claro que sim. Mas a pergunta não é fora de lugar. Às vezes dá impressão que existe uma espécie de rede (de conspiração) que tenta esvaziar essa ideia. Ou melhor, esse "chamado". Talvez porque não dê para falar de vocação sem considerar a experiência de um desígnio sagrado e - mais importante - estável. No fundo, parece que aqui está o imbróglio. Hoje em dia os jovens não parecem rejeitar Deus, gostam genuinamente de desvelar a dimensão do Sagrado, mas há importantes resistências encontradas em compromissos que assumam padrões comuns de relacionamento, tempo e espaço.
Explico-me. Não é mera opção materialista por segurança financeira. É pressa, muita pressa. E sem sentido.
Faz pouco tempo, descobri que a contagem do tempo em minutos só começou a compor a cultura humana universal em meados do século passado, fato consolidado durante a II Guerra Mundial. Recente demais, não? Pois é. Isso significa que de 70 anos pra cá, todas as gerações foram ensinadas a contar o tempo em segundos, décimos, centésimos, milésimos, até o advento da internet. Desde que se tornou a principal ferramentas de comunicação do mundo pós-moderno, a internet simplesmente pulverizou o tempo, minimizou distâncias e relativizou espaços. Minha tese (ancorada na leitura de muita gente inteligente) é que é muito mais desafiador falar em projeto pessoal de vida - ou seja: pensar em anos, décadas, uma vida humana inteira - para uma geração acostumada a conseguir as coisas no tempo de um "click".
Mas se nem tudo está perdido, só haverá descoberta do tesouro vocacional se nós educadores cumprimos nosso papel "pro-vocativo".
Ser vocacionado é se mover na vida para realizar um desejo interior que clama por realização. Quem atua por vocação sente que é chamado por uma voz que não cala nunca. Não importa se a voz é de Deus, da humanidade, do sentido de vida, da história, como queiram. O mais bonito é que haverá sempre uma singularidade entranhada nos chamados, respostas e identidades vocacionais. Isto significa o seguinte: existe uma maneira de colorir o mundo que só você é capaz de pintar, só você tem o pincel, só você descobriu esse tom. Não há substituição, não há alternativa. Ou você descobre esse chamado e dá sua resposta, ou o mundo vai empalidecer. Quando muito, ficar mais cinza.
Na raça e na paz Dele,
J. Braga.
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