O que é Crítica - Carlos Klimick

É comum termos uma visão negativa do termo “fulano só sabe criticar, por isso surgiu a expressão “crítica construtiva”, mas criticar não é o mesmo que falar mal. Vamos primeiro à definição do termo:

Crítica - a palavra crítica (do grego crinein) significa separar, julgar. A crítica é uma avaliação que julga o mérito estético de uma obra de arte, a lógica de um raciocínio, a moralidade de uma conduta etc.

O trabalho de um crítico é trazer uma avaliação a partir de seus conhecimentos de uma determinada obra ou teoria. Isso permite que pessoas com menos tempo ou conhecimentos, avaliem se querem ou não ler o livro, ver o filme, assistir a peça ou palestra, ouvir o podcast, por aí vai.

Normalmente, mesmo que seja muito respeitado, o crítico não pode apresentar uma avaliação puramente subjetiva, mas deve embasar sua opinião com determinados aspectos objetivos. Isso é importante, porque alguns críticos de renome podem levantar ou arruinar carreiras artísticas com suas avaliações, e devem usar esse tipo de poder com critério e seriedade. Por esses motivos, muitas empresas que produzem ou comercializam essas obras tentam cooptar o crítico para obter avaliações positivas sobre seus “produtos”.

As estratégias vão desde a legítima tentativa de persuasão, através de explanações e conversas, até ofertas de presentes e outras barganhas ao jornalista, o que envolve questões éticas.

A crítica tem duas vertentes: a objetividade e a subjetividade.

A subjetividade se aproxima do que chamamos de “gosto”, um sentimento, um prazer ou asco que temos em relação a algo que se refere a uma identificação interior. Por isso que se diz que gosto não se discute.

Critérios objetivos buscam uma racionalidade, uma avaliação a partir de um padrão com o qual a narrativa, obra de arte, teoria, é comparada. Os critérios desse padrão são uma decisão histórica e variaram muito ao longo do tempo. Basicamente são determinados por uma elite que os estipula de acordo com a tradição ou então postulados teóricos vigentes em sua época. Isso para determinar se uma obra é “arte”, “marcante”, “significativa”, “de qualidade” e merece receber verbas do governo, por exemplo.

As obras ditas “comerciais” tem sua legitimidade dada por suas vendas, o que implica em dizer que agradaram ao público. Mas, como muitos membros da elite consideram que o povo em geral é inculto, de gostos simples e facilmente manipulável pela mídia, esse sucesso não é sinônimo de qualidade.

Exemplos de critérios objetivos para um filme, por exemplo, são:

Enredo bem construído: os eventos se encaixam numa sequencia lógica de causa e efeito, são significativos e não há “furos”.

Personagens densas: tem personalidade e motivações bem definidas, escapando dos clichês quando são centrais para o enredo.

Bons atores e atrizes: expressam convincentemente diferentes emoções e personalidades no seu uso da voz e da linguagem corporal.

Boa direção: enredo, personagens e atores são articulados de forma a dar o máximo possível do filme, cenas de ação, humor e drama são convincentes belas imagens os recursos disponíveis em cinema ou TV são bem utilizados etc.

Uma possibilidade é avaliar a obra em relação ao fim ao qual ela se destina. Por exemplo, uma comédia romântica da Sandra Bullock ou um filme de ação do Vin Diesel que tem como objetivo principal fazer com que um determinado público se divirta no cinema e por algum tempo esqueça seus problemas cotidianos e saia animado depois do filme, pode ser considerado bom se atingiu esse objetivo. Já um filme de Coppola ou David Lynch, que tenha como meta levar a questionamentos profundos pessoais e sociais a um outro tipo de público e não consegue fazer isso, pode ser considerado um filme ruim.

Por fim, nas críticas lembre-se sempre de ser gentil. Se alguém gostou de um filme, história em quadrinhos, música, livro, etc e você não, não diga que tal obra é uma merda. Primeiro, é uma merda para você e não para aquela pessoa. Segundo, se ela gostou é porque uma parte dela se identificou com a obra e sua opinião estará indiretamente dizendo que aquela parte dela é uma merda pelo menos que gosta de merda. Ser gentil, usar de eufemismos, não é hipocrisia. Ser “politicamente correto” nas críticas é respeitar os sentimentos do outro.

Fonte: http://historias.interativas.nom.br/klimick/?p=14

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