Eleições 2012: Não odeio ninguém

#campanhadeódioemcurso
Sabe aquela sensação de uma conversa abruptamente interrompida ou zapeada à volume mínimo porque você adentrou o recinto? Pois é. Nestes tempos sazonais, sei que teve gente que "se escandalizou" por eu ter apoiado o PT. Talvez, uma reversão de expectativa. Algo que provocou restrições à empatia das pessoas comigo. Ao menos por enquanto, alguns colegas passaram a me evitar por minhas opiniões políticas e publicadas. Outros acham e falam que eu deveria ser "neutro", dado que dialogo como "formador de opinião" em diversos ambientes que interajo. 

Ó céus...

As eleições municipais, recém concluídas, determinaram o retorno de duas oligarquias familiares em duas das principais capitais do país: Fortaleza (onde nasci) e Salvador (onde moro). Vontade da maioria, não minha. Ganharam no voto, não pelo meu. Eleitores, aos montes, movidos mais por certa sede de "vingança" foram determinantes em ambos os pleitos. Pessoas queridas, bradaram comigo: 

" - Ha-ha-ha, taí... #succionaBraga!" (rsrs...na verdade #chupaBraga)

Então, olho para meus tempos de estudante de 2o Grau, pelos idos dos 90, no Marista Cearense. Aula do Clodomir Freire: professor de História, sertanejo do Iguatú, alinhado com o pensamento de esquerda e "confessionalmente" marxista. O social, a revolução, o trabalhador, eram centrais. Ponto. Outra aula: Itamar Medeiros, Filosofia, conservador, intelectual de direita, fluência em inglês, já havia morado nos EUA, profundamente convencido da evolução natural do mundo sob a batuta capitalista. A prosperidade, o mercado, a livre-iniciativa dominavam seu discurso. Ponto.

As aulas dos dois, no Terceirão, eram das mais aguardadas por nós alunos.

Quando o Clodomir entrava em sala era só alegria. Dava a matéria e o recado bem dado, com competência e bom humor. Costumava encontrar formas hipnotizadoras de fazer a gente refletir sobre nossa implicação de jovens protagonistas em nosso tempo, em nossa cidade, enfim. Tudo, obviamente, desde sua leitura socialista. Quando Itamar entrava em sala, geralmente, já sabia o que o Clodomir havia dito e se aproveitava. Lembro que insistia na ideia de nos tornarmos "especialistas", já que "nos anos 2000" não adiantaria saber algo sobre tudo, e sim, tudo sobre algo. Agudo, irônico e irreverente, tratava de interpretar o mundo desde outra dinâmica, desfazendo o marxista, claro.

Além de divertido era profundamente formativo o embate "branco" entre esses dois excelentes educadores. Nenhum de nós, alunos, entendíamos aquilo como "doutrinação". Éramos suficientemente inteligentes para fazer uma leitura adequada do que estava acontecendo ali, semana a semana, em nossa privilegiada sala de aula.

Repare. Estamos falando de outros tempos, textos, contextos e pretextos pós guerra-fria, Plano Real, FHC, etc. Éramos meros estudantes, adolescentes com paixão e hormônios em doses vulcânicas na corrente sanguínea, mas capazes de distinguir as pessoas dos projetos políticos que representavam. Por mais que tivéssemos simpatia por um ou outro caminho (e o manifestávamos nas discussões), os dois camaradas eram dignos de respeito e admiração. Por serem docentes (e não políticos), carinho mesmo.

Dispensável dizer com quem mais me identificava. 

Pois bem, nessas eleições de 2012 não precisei xingar ninguém de "alienado", "burro", "chupaqualquercoisa" por ter feito uma opção diferente da minha. Como não pude votar, tentei provocar meus amigos, conhecidos e agregados facebookianos com opiniões que apontassem a um horizonte de projeto político, para além dos candidatos. Afinal, foi assim que me ensinaram política. Clodomir e Itamar, especialmente.

A questão, portanto, é de projeto, nada pessoal.

Na campanha me assustei com o tom de vingança ao PT e, em particular, a seus candidatos. Foi mais que mera impressão. Prevaleceu o ódio pessoal aos petistas à convicção nos projetos das oligarquias. Entendo que a empatia (ou falta dela) com a pessoa do candidato é importante, mas não acho que chamar uma política de "vaca" trará algum benefício para o processo. Acho justamente o contrário. Personifica, esvazia e empobrece. Talvez por isso tenha sido impulsionado a me mexer e tentar trazer algumas discussões nas redes sociais para outro foco: o dos projetos. Importa dizer que não sou filiado. Sou um cidadão comum que se interessa por política, pois sabe que só através desse processo há possibilidades de mudança. 

Para mim é, sim, decepcionante admitir que Fortaleza e Salvador agora terão 4 anos sob comando de oligarquias familiares. Historicamente, não tem sido auspicioso nos submetermos a gestores públicos deste perfil. Afinal, o fim de um partido político (como o PT) é se eleger e governar pautado num projeto. O fim de uma oligarquia familiar é garantir seus privilégios de cabralescas eras. O Brasil cresceu, apareceu e se tornou referência mundial sob a liderança genial de um sertanejo nordestino, ancorado num partido nascido no meio do povo, que optou por uma revolução democrática e fez o melhor presidente do Brasil no voto. Acredito nessa história, nessa proposta. 

Mas desejo, com força, estar absolutamente errado e vibrar com essas duas cidades bem melhor que hoje, em 2016.

Afinal, prefiro ser feliz a estar certo. E não custa reforçar: não odeio ninguém.

Viva a democracia!

Na raça e na paz Dele,
J. Braga.

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