Você não tem direito a ser feliz

Há algo mais perigoso que achar que 
as coisas vão praticamente cair do céu?
“- Ninguém aqui tem direito de ser feliz!”. Cheguei à sala de aula dizendo logo assim. Silêncio. 

Parece uma frase de impacto. E é. Afinal de contas, superadas as opressões políticas, sociais e religiosas do passado, num mundo em que não existem mais distâncias e numa era de abundância material até em países emergentes como o Brasil, nada mais absurdo que questionar esse “direito” sagrado. O problema: A crença de que a felicidade é um direito tem tornado despreparada a geração mais preparada, afirmam especialistas. Raiz da questão?! Parece ser a educação. Ou a insipiência dela. 

Temos uma geração de classe média que estuda em bons colégios, é fluente em outras línguas, viaja para o exterior e tem acesso à cultura e à tecnologia. Uma geração que tem muito mais do que seus pais tiveram. Ao mesmo tempo, cresceu com a ilusão de que a vida é fácil. Ou que já nascem prontos – bastaria apenas que o mundo reconhecesse a sua genialidade. Pronto. Tudo certo. 

E aí companheiro?! Há algo mais perigoso que achar que as coisas vão praticamente cair do céu? E pior, que esse é um “direito” que nos assiste?! 

Bem... basta imaginar a carinha dos meninos e meninas quando a frase que inicia esse texto foi pronunciada para perceber que eles – realmente – acreditam nisso. A frase causou evidente estranhamento. Queixos caídos na geração do “eu tenho direito”. Ahn?!

Sob a ótica do “eu mereço” se menospreza o esforço, desconhece-se a inevitabilidade das frustrações e, por consequência, nega-se uma missão própria e particular implicada na vida: a Vocação. Responder a ela é que nos faz conectar existências pessoais e sociais, em razão de um propósito, para a autêntica experiência de ser feliz. Mas desafios, com perdão da ironia, são inerentes à vida de todo ser que não esteja cientificamente classificado no mundo mineral. E os jovens não sabem disso? Depende. Quem os ensina? 

A vida é permeada de impossibilidades. Aprender a conviver com elas tem a ver com nosso mais profundo instinto de sobrevivência. Essa capacidade humana sempre existiu, mas psicólogos contemporâneos têm chamado isso de resiliência, a saber: a capacidade de o indivíduo lidar com problemas, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas, extraindo das dificuldades aprendizados para o que vem pela frente, num persistente espírito de otimismo. 

Pois bem. Só que o foco desta reflexão não é a crítica aos jovens. Talvez, melhor, aos adultos. Leia o seguinte enunciado: "Nossa juventude adora o luxo, é mal-educada, caçoa da autoridade e não tem o menor respeito pelos mais velhos. Nossos filhos hoje são verdadeiros tiranos. Eles não se levantam quando uma pessoa idosa entra, respondem a seus pais e são simplesmente maus”. Que tal?! Achou pesado? Mas sabe quem disse isso? Sócrates, 400 anos antes de Cristo. 

A juventude sempre foi alvo de críticas, sempre será. Mas quem, de fato, é responsável por sua formação? Pois é. Cabe-nos, aos adultos, ligar o botão de alerta, pois felicidade não é, nem nunca será um “direito”. Muito mais se identifica à metáfora do “Caminho”: tem um horizonte, ficam pegadas, há companheiros, obstáculos, surpresas. Dispensam-se atalhos. Mas antes de tudo, se há sensibilidade vocacional, sabe-se o sentido deste caminho, por isso não há angústias paralisantes com as consequências da caminhada. 

Desistir é para os fracos? Talvez. Mas é, antes, algo próprio dos perdidos. Desorientados. De quem não encontrou referências. 

Ou, pior, de quem nunca lhe foi possibilitado caminhar com as próprias pernas.

Na raça e na paz Dele,
J. Braga.

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