A relação com o simbólico - Alfredo Roberto Marins Junior
“Quem tem uma ferradura em cima da porta para atrair a sorte
deveria usá-la nos pés.”
Autor desconhecido
O homem que iniciou o estudo científico da linguagem (chamada linguística) foi o linguista e filósofo suíço Ferdinand de Saussure. Entre outros elementos ele definiu o signo linguístico. E antes de continuar, devo dizer que signo linguístico nada tem a ver com o zodíaco ou astrologia. Explico:
Imagine uma moeda.
Se você usou da sua criatividade, duas coisas aconteceram no seu cérebro ao mesmo tempo. A primeira é que a imagem de uma moeda apareceu. Pode não ter sido muito nítida, pode parecer uma moeda de desenho animado ou aquelas moeda douradas dos tesouros, mas alguma imagem deve ter aparecido.
A segunda é que aquela voz que repete em sua cabeça tudo o que você lê, repetiu “moeda”. Cada vez que você lê, ela fica repetindo, “moeda”, “moeda”. Este som que você reconhece é chamado de significante. Já o conceito de moeda (redonda, de ouro ou de prata, com uma face estampada) é chamado de significado.
Saussure define signo linguístico como a soma do significante e do significado. Olhe para sua caneta. Ela é um signo, já que é um objeto, fabricado a partir de um conceito (esferográfica plástica ou tinteiro) e que tem um som associado à ela: “caneta”.
Agora, se eu lhe dissesse “Ankh”, você provavelmente não conheceria nem o som nem a imagem. O som correto para a palavra é "anrr", e a imagem vinculada a ele é esta abaixo. O Ankh é o símbolo da mitologia egípcia para a vida eterna ou vida a após a morte.
Mas perceba bem que eu não classifiquei o Ankh somente como um signo, classifiquei-o como um símbolo. Isto porque o símbolo tem um significado metafísico, uma história que vai além da mera estrutura física. É pelo simbolismo que dois pedaços de madeira unidos na posição correta, tornam-se uma cruz, sinal de martírio e redenção.
Quando digo “suástica”, você possivelmente pensaria numa figura preta sobre um círculo branco, ambas sobre um retângulo vermelho. Mas também pensaria no nazismo, em Hitler estendendo o braço sobre a multidão e no holocausto.
Enquanto que aos signos são atribuídos um significado e um significante, a um símbolo, é atribuído também um contexto, uma história, uma série de eventos que fazem com que aquele signo em especial tenha um sentido maior. Os símbolos estão um degrau acima na compreensão, porque evocam um senso mais forte que o signo.
Outro conceito do signo de Saussure é que ele é arbitrário, ou seja, não há nada natural nele que evoque o seu nome. A sua caneta chama-se caneta não porque ela tem aparência de caneta. Ela só tem este nome, porque há muito tempo alguém atribuiu este nome à ela. Se lá no princípio da linguagem alguém nomeasse o bastão que escreve de cadeira, hoje a chamaríamos de cadeira sem nenhuma estranheza.
Assim, os símbolos não nascem símbolos, eles recebem um nome, um significado, um significante e uma história que lhe confira um sentido além do signo, são os protocolos humanos que enobrecem os símbolos.
E a relação humana com o simbólico é de devoção, adoração, ou no mínimo, de respeito. Você pode até não crer num símbolo, mas respeita-lo é o mínimo que se pode fazer.
Mas o jeitinho brasileiro, verdadeiro símbolo do país tem a inabilidade de por tudo a perder. Basta ver a tratativa dada aos símbolos nacionais. Bandeira, brasões, hinos. Nada disto tem significado para a grande maioria.
E pior que tratar mal nossos símbolos é tratar da mesma forma os símbolos alheios. É a vergonha Olímpica começando em grande estilo, com uma bandeira que pertence à todas as nações, passando de mão em mão (todas desprotegidas) no Rio de Janeiro.
É a cultura nacional, que acha que “quebrar o protocolo” tem um significado positivo. É a cultura nacional, que acha que “quebrar o protocolo” tem um significado positivo.
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