Sete olhares sobre a Missão Marista de Solidariedade

Missão é, essencialmente, transformação de olhares. Compartilhamento de sorrisos.
A beleza do olhar de uma criança está sempre disponível para aqueles que a veem. Mas, às vezes, ela mal sabe da bênção que manifesta. Então, pelo amor de Deus, por quê não ajudá-la a se dar conta de quão maravilhosa é?! Missão é, essencialmente, transformação de olhares. Compartilhamento de sorrisos. De quem encontramos? Sim, mas aqui reside um óbvio inusitado: é originalmente a transformação da vida daqueles que vão ao encontro. Missionárias e missionários! À medida que me disponho a “ver”, sou “visto” e me “re-vejo”, aprofundando minha existência. 

Humanização começa com o olhar, portanto. É o ponto de partida da missão. 

Baseado na lindíssima experiência que tivemos em Várzea do Poço-BA, ano passado e neste ano, arrisco abaixo algumas possibilidades de olhares que pretendem expressar o significado uno e múltiplo da Missão Marista de Solidariedade (MMS). 

Um Olhar Etnológico 

Há um cumprimento africano, em dialeto Zulu, que se traduz dizendo: “eu vejo você”. A palavra é sawubona e se responde sikhona (“aqui estou”). Lindo isso. Só que algumas sutilezas cruciais são perdidas na tradução. A riqueza essencial é: a minha existência só é real quando o outro me vê. Ao me saudar, o outro me devolve à existência. Uma pessoa só é pessoa no “re-conhecer” de outras pessoas. É essa a lição. 

Um Olhar Pedagógico 

Daiane Oliveira, professora de nosso colégio, tem uma percepção interessante. Missão, reflete ela, “parece coisa de super herói, envolvendo algo importante, porém repleto de obstáculos quase impossíveis de serem vencidos”. Tirando o heroísmo poético do imaginário coletivo, tem perfeito sentido. De fato, envolve algo importante – a dignidade humana – e, sim, é repleto de obstáculos. Implica um sair de si, abandonar zonas de conforto, assumir novas posturas, comungar de propósitos coletivos e abrir mão de pequenos luxos do dia-a-dia para...? Para ser “presença”, um-com-o-outro, irmão, irmã. Ativar a “existência” das pessoas para que elas se sintam...pessoas. 

Um Olhar Existencial 

Na MMS, estranha-se uma série de coisas: o clima, a seca, os cheiros, o modo de vestir, de comer, de falar e até de dormir, é verdade. Mas só se estranha aquilo que, no fundo, é familiar. Se fosse totalmente estranho não captaria nossa atenção. No fundo nos identificamos e, se nos permitimos, tudo se transforma numa fantástica experiência de estar vivo e aprender. Enquanto missionamos, fazemos um mergulho em nossa própria humanidade e – sem que consigamos descrever como se dá essa experiência – ressignificamos nossa existência. 

Um Olhar Teológico 

Simbolicamente, a MMS consegue reunir e expressar tudo de mais fundamental na experiência cristã, a saber: liberdade, fraternidade e transformação. E, atenção: “simbolicamente” não tem nada a ver com “faz de conta” ou “como se fosse”. Simbolizar tem algo de linguagem performática, como aquela do relato bíblico: “Deus disse: ‘- Faça-se a luz!’ E a luz se fez”(Gn 1, 3). Simples, mas efetivo. A presença de Deus se dá privilegiadamente numa cultura de solidariedade arraigada. 

Um Olhar Científico 

Numa linguagem mais próxima à neurociência, diríamos que a MMS tem a potência de interferir no substrato biológico do sistema nervoso – o cérebro – de maneira a estimular sinapses inéditas, reorganizar novas redes neurais, promover outras funções cognitivas e, enfim, habilitar mudanças de comportamento. Em termos de aprendizagem (segundo a Pirâmide da Aprendizagem de Dale)numa aula expositiva, a taxa de retenção média das informações com as quais o cérebro tem contato após 24 horas,  é de 5%. Numa experiência prática, como a da Missão, chega a 90%. A maneira de aprender da MMS supõe um cérebro em transformação ao longo de todo o ciclo da vida. 

Um Olhar Pragmático (ou do ENEM) 

A Missão Marista de Solidariedade é uma espetacular lição de compreensão de fenômenos, domínio de linguagens, enfrentamento de situações-problema, construção de argumentações e elaboração de propostas. Consegue dar conta das competências e habilidades reguladas pelo Ministério da Educação. E as coloca em prática, num horizonte de protagonismo juvenil e cidadania. Quer aprendizado maior que esse? 

Professores & Alunos juntos. Simplesmente maristas.
Olhares profundos.
Por fim, não importa a perspectiva que mais lhe convença. A etnológica, pedagógica, existencial, teológica, científica ou pragmática. No fim das contas, todas contam. Mas concluímos com a intuição de um Olhar Marista, a saber: seria muita presunção dizermos que levamos Jesus a Várzea do Poço. Não. Ele está lá tanto quanto aqui. Levamos é a beleza de Deus em nós e, lá, tentamos desvelar a beleza de Deus em quem encontramos. 

Evangelizar é o ponto de chegada da Missão. A nós, antes que aos outros. Bom que se diga. 

É o que miramos. 

Na raça e na paz Dele, 
J. Braga.

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