Mulheres e Evangelização
"Deus é mais mãe do que pai”
(João Paulo I)
Agnes Gonxha Bojaxhiu
se tornou uma das maiores
personalidades do séc. XX.
Ficou conhecida por outro
nome, porém.
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Uma irmãzinha albanesa, sem pudores. Agarrou com seu corpo franzino o homem debilitado, leproso – e ainda mais franzino que ela – com toda força e cuidado. Colocou-o numa espécie de banheira e o limpou, ferida por ferida, chaga por chaga. Um banho demorado e difícil. Doloroso para ambos. Um jornalista estrangeiro, que acompanhava o trabalho dessa irmã nos confins da Ásia, não conseguiu disfarçar o asco que sentiu ao ver aquela cena. Ao observar as manchas de sangue e pus na vestimenta da religiosa, comentou, sem bem pensar, que nem por um milhão de dólares faria aquilo. Ao que, espirituosamente a mulher respondeu:
“- O senhor não daria banho em um leproso nem por um milhão de dólares? Nem eu. Somente por amor se pode dar banho em um leproso.”
É impossível não reconhecer em Agnes Gonxha Bojaxhiu uma inspiração poderosa para as mulheres que se identificam à razão de ser e existir da Igreja: evangelizar. Ao mesmo tempo, é salutar que detectemos nela, características própria de seu gênero feminino que nos iluminam (aos homens, principalmente) no quefazer evangelizador. Falemos, provocativamente, de três.
O amor incondicional, como o de uma mãe. Alguém pode questionar: “- Mas o amor não é algo que independe de gênero?” Sim, é verdade. O amor de uma mãe por seus filhos é, no entanto, a última instância de referência daquele que divinizou o amor entre os seres humanos. O amor de Deus, reconhecem os místicos (e a Lumen Gentium, n. 65), é, apenas, metaforicamente comparável ao amor de uma mãe. O cuidado no jeito de ser, como de uma educadora. A mística do cuidado tem a ver com a pergunta sobre que tipo de mundo criaríamos se, no lugar de nos inclinarmos à competição, praticássemos coletivamente, o exercício da aceitação, do acolhimento, do importar-se e da compaixão? Não é sem razão que os educadores mais marcantes da nossa infância costumam ser mulheres. E, por fim, a sensibilidade intuitiva, como de uma profeta. A capacidade da mente feminina de fazer muitas coisas ao mesmo tempo é graças às infinitas conexões inconscientes que a habilitam fazer – conscientemente – escolhas que os homens não tem tanta clareza e rapidez de decisão. É antever soluções a desafios que ainda se perfilam.
Para quem não sabe, Agnes Gonxha Bojaxhiu é uma personagem emblemática da recente história eclesial e, também, mundial. Sua vida, serviço e reflexões transbordaram as fronteiras do país em que trabalhou, a Índia, e da Igreja na qual se consagrou, Católica, para ocupar um espaço inédito no âmbito das personalidades humanas dignas de um prêmio Nobel da Paz. E ganhou. O fundador do prêmio, o sueco Alfred Nobel, teve, em Agnes, um novo paradigma para a entrega deste símbolo da luta pelos Direitos Humanos. A Igreja, nesta mulher, ressignificou a riqueza do feminino e da fraternidade no mundo pós-moderno.
Agnes Gonxha Bojaxhiu não nasceu Madre Teresa de Calcutá. Se tornou. Como ser humano em construção, conseguiu levar até a última instância seu propósito existencial e eclesial de dar dignidade aos mais desprezados, de humanizar os desumanizados. Os últimos dos últimos. Mas esse caminho ela só conseguiu fazer porque, antes, se permitiu radicalmente humana.
E, por tão humana, plenamente mulher.
Parecida a Deus.
Na raça e na paz Dele,
J. Braga.
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