Sobre assessores que não largam o osso: 7 noções para os "sem noção"
Ei, larga o osso aí! - Rogério Oliveira
Existem algumas coisas que me deixam bem chateado na pastoral. Uma delas é ver um grupo que se deixa conduzir por uma coordenação ditatorial. Há muitos motivos para que a coordenação aja desta maneira: busca de status, influência, poder, sentir-se “querido” ou “necessário”. E há motivos para que o grupo aceite este tipo de coordenação: apoio, fortaleza, simples submissão, tentativa de aproximação para pegar as “migalhas do poder”.
Alguns destes “ditadores” não enxergam o mal que fazem. Não é nada pastoral impedir que o jovem possa decidir junto. Não é nada pastoral ficar só apontando os caminhos sem refletir juntos. Não desperta liderança. Desperta um bando de bajuladores e jovens apáticos.
Mas o que é ruim, pode piorar. Estas coordenações se julgam salvadoras da pátria e pretendem ficar no topo por muito e muito tempo. Mas há algo que elas não controlam: a idade. Não se é jovem para sempre. Mas mesmo ignorando a regra temporal, estas coordenações insistem em ficar. Adultos coordenando jovens. Isto é PJ? Cadê o protagonismo?
E você acha que chegamos no fundo do poço? Então lá vem o tiro de misericórdia: para justificar a permanência na condução do grupo, alguns destes coordenadores mudam de título. Viram assessores!
Você nunca viu isso? Que bom! Torço que nunca veja, porque isso é uma tremenda distorção pastoral. O sujeito que entra nesta onda não tem nem noção do que seja o ministério da assessoria. Apenas não quer largar o osso. E para ajudá-los a mudar, partilho sete noções básicas de assessoria.
Primeira noção: virar assessor não é subir de referência: hoje eu sou coordenador, amanhã serei assessor. Não funciona assim. Nem todo mundo serve como assessor. Aprendemos que para sê-lo é preciso ter vocação. E nem todos tem o dom de acompanhar. E isto não é demérito para quem não tem. Há muitos serviços que lideranças jovens-adultas podem exercer, dentro e fora da pastoral.
Segunda noção: assessorar é ter poder. Nosso poder, entretanto é o do serviço. Claro que sua palavra do assessor tem um peso. E é preciso que você saiba medi-las. Você não é o condutor do processo. Você é parte dele, mas o protagonista não é você. Inspire-se sempre em João Batista: “é preciso que Ele cresça e eu diminua”.
Terceira noção: saiba quando você deve deixar errar. O erro é pedagógico, mas deve ser medido. Não se pode errar toda hora, mas se deve aprender com os passos dados em falso. A justificativa destes assessores que ditam regras é que o grupo não pode errar, porque o erro causa frustração. Frustrado vai ficar este assessor ao saber que ele não está exercendo seu papel de educador e cuidador da juventude.
Quarta noção: exercite o questionamento. Muitos assessores vieram sim de coordenações e em razão disto sabem liderar. Mas o papel agora é outro. Não é apontar caminhos, mas ajudar a pensar porque escolher um caminho é uma melhor opção do que escolher outro. Você não decide. Quem o faz são os jovens.
Quinta noção: interferir pontualmente somente quando perceber que há um problema grande que os jovens não percebem. Esta, porém, não é a regra. É a exceção. Se há uma atividade que envolve outros grupos, muito investimento ou pode comprometer a imagem da pastoral, entre outros exemplos, é claro que o erro aí pode ser fatal. Questionar é o primeiro passo. Se isso não der resultado, mostre os motivos da preocupação e tentem achar um melhor caminho.
Sexta noção: aprenda quando é o seu momento de dizer tchau. Há grupos que precisam de outras assessorias. Há contribuições que outros podem ser melhores para dar do que você. Aprenda a largar o osso. E há outros grupos que precisam da partilha das suas experiências. Assessoria sempre é uma troca. Aprende-se muito, ensina-se muito também.
Sétima e última noção: não existe assessoria perfeita. Todo mundo pode falhar, mas é dever do assessor buscar aprender com os erros (sejam próprios, sejam de outros assessores ou outras situações). Todo mundo pode aprender, todo mundo pode melhorar, todo mundo pode mudar. E como dizia Clarice Lispector: “só o que está morto não muda”.
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