Fraternidade e Saúde: reflexões de José Comblin

Cartaz da CF 2012
A fraternidade de Jesus é serviço ativo. Não fica nos sentimentos nem nas declarações. Não é disposição passiva – estar sofrendo com eles –, mas atividade. É extraordinário o modo escolhido para concretizar esse amor. Jesus vive numa civilização rural e pré-técnica. Ainda hoje, massas rurais e pobres de periferia vivem esse mundo. O maior problema, o sofrimento mais comum é a doença. A saúde é o motivo das preocupações constantes. Não há dom superior ao dom da saúde. 

Os sertanejos respondem a mesma coisa, se lhes perguntamos qual é a maior felicidade. A grande preocupação religiosa é a saúde: quase todas as promessas se referem à saúde. As romarias não tem outra finalidade. As orações dizem respeito á saúde. Você vê uma pessoa humilde recolhida com uma intensidade quase mística e contemplando a imagem do Santo: pode estar certo que ele veio pedir ou agradecer o dom da saúde, para si mesmo ou para um dos seus familiares (...). Assim era o povo que Jesus conheceu: doentes em quase todas as famílias, em todas as aldeias, quase sem recursos, sem esperança. 

Nessa civilização rural, há curandeiros que associam o recurso à oração com o conhecimento de receitas antigas e tradicionais. Alguns desses curandeiros vivem como santos, dedicados inteiramente ao alívio dos sofrimentos do próximo. Alguns são verdadeiros místicos (...). Ainda hoje, no interior, conhecemos as rezadeiras. Algumas se aproveitam da credulidade de quem sofre. A maioria são autênticas santas que praticam uma caridade heroica (...). 

Aliás, quem pode definir a separação entre o poder da fé e da confiança, o apelo a energias psicológicas desconhecidas, o uso de remédios empíricos e a intervenção excepcional de Deus? Tudo aquilo pode estar misturado nesses acontecimentos atestados por um povo crédulo, piedoso e sincero (...). 

Num mundo de curandeiros, a chegada de um taumaturgo não era problema. Era o sinal por excelência da caridade. O maior serviço que se podia prestar a um povo era o de curar os doentes. Jesus escolheu o serviço maior. Não havia sinal maior (...). Jesus foi um taumaturgo, um taumaturgo extraordinário que entusiasmou o povo, um taumaturgo que superava os curandeiros conhecidos que não deixaram nome (...). 

Essas multidões à procura de saúde, que ainda hoje, às vezes, se concentram em certos santuários, são a imagem de uma humanidade abandonada. Dessa humanidade, Jesus se sente irmão. (...) 

Esse amor de Jesus não é força impessoal, difusão de uma energia beneficente, mas anônima (...). Jesus atendia pessoalmente às pessoas (...). O que se manteve através dos revestimentos literários foi justamente a nota humana de atenção pessoal (...). Não há sinal que não seja resposta a uma súplica, uma necessidade.

Fonte: COMBLIM, José. Jesus de Nazaré. São Paulo: Paulus, 2010, p. 48-52.

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