A partícula Divina - Alfredo Roberto Marins Júnior

“A Física moderna leva-nos necessariamente a Deus” 
Arthur Eddington

CERN, o laboratório da Organização Europeia 
para a Pesquisa Nuclear
No dia 13 de dezembro de 2011, pesquisadores anunciaram que experimentos realizados no Grande Colisor de Hádrons, o mais potente acelerador de partículas já construído, deixavam a ciência mais perto de confirmar a existência do Bóson de Higgs, apelidada de "partícula de Deus".

Tais experimentos foram realizados no do CERN, o laboratório da Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear, que fica na Suíça e visavam provar a existência de uma partícula subatômica, que até agora só existe nas equações dos físicos e que seria a responsável por todas as outras partículas terem massa.

A idéia de uma partícula divina, não subatômica, mas um fragmento do corpo da divindade, está presente em diversas mitologias, ligando a criação ao criador. Ela pode ser o contato físico, como no caso do mito hindu de Purusha, de cuja cabeça nasceram os sacerdotes, dos braços os soldados, das pernas os homens da terra e dos pés os trabalhadores. 

Pode ser o sopro, como no mito nórdico em que Odin sopra a vida e a alma em dois troncos e eles passam a ser o primeiro casal da Terra Média. Note-se que o mesmo processo é apresentado nos textos Judaico-Cristãos, onde Deus, depois de formar Adão do pó da terra, soprou-lhe nas narinas o fôlego da vida.

Há outras origens menos nobres, como a do mito sérvio que narra que Deus deu a volta por todo o universo e ao voltar à Terra, uma gota de suor escorreu de Sua testa e caiu no chão. Esta gota gerou o primeiro ser humano, que nascido do suor foi atrelado a uma vida de labores. Pode não ser uma imagem de beleza lírica, mas a partícula está lá.
Para os mitos egípcios, o criador supremo é Rá (também chamado Rê). Ele deu à luz si mesmo no princípio do tempo e todos outros deuses nasceram a partir de sua saliva. 
Sentindo-se muito solitário, Rá cuspiu e da saliva dele nasceram Shu, o ar e Tefnut, a umidade. Da união destes dois, nasceram Geb, o deus da terra e Nut, a deusa dos céus.

Após criar outros deuses, Rá continuou a perambular pelo mundo, mas a Terra estava vazia e sua ainda não sanada solidão lhe causava profunda tristeza. Então ele chorou e das suas lágrimas caídas na terra nasceram os primeiros ser humanos.

Rá buscou fazê-los felizes, não deixando que lhes faltasse vento fresco, nem calor do sol, nem enchentes ou vazantes do Nilo, razão pela qual os egípcios denominavam a si mesmos de rebanho de Rá.

Algo interessante nos mitos, é que não há como ouvir a outra versão. Toda mitologia é um modelo humano para explicar o que parecia inexplicável. No antigo Egito não havia aceleradores de partículas ou como consultar Rá para perguntar-lhe sobre as tais lágrimas de solidão. Mitos não podem ser validados.

E nem precisam ser validados. O modelo proposto na criação egípcia não esclarece nada, não justifica com cálculos quanto de água seria preciso para gerar um ser humano, nem busca onde esta gota caiu. Mas ele cria certa empatia pela experiência humana de sofrimento e solidão.

Na física vigora o chamado modelo padrão, algo que nem me arrisco tentar comentar porque me falta conhecimento, mas que pressupõe a existência do Bóson de Higgs. 

Caso esta partícula não seja localizada, ou realmente não exista, o universo não vai desmoronar. Somente será constatado que o tal modelo padrão não está totalmente correto, o que realmente não é fim do mundo.

Uma nova teoria surgirá em seu lugar e os físicos continuarão indefinidamente tentando explicar a origem da matéria e do universo através da esperança de que testes validem as hipóteses.

Talvez o maior requisito de um cientista não seja a pesquisa, mas a fé.

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