Sobre nosso comportamento na internet

Superficialidade, falta de educação e desrespeito
A internet parece um mundo à parte. Mas só parece. 

Dias atrás, um assunto polêmico tomou conta dos principais portais, blogs e redes sociais. Com repercussão mundial, no dia 28 de outubro de 2011, o ex-presidente Lula foi submetido a exames no hospital mais chique do país: o Sírio-Libanês, de São Paulo. No dia seguinte, anunciava-se o resultado da biópsia com o diagnóstico: Câncer. 

Antes que o leitor se precipite...não. A ideia deste texto não é imprimir uma aura mítica à figura do ex-presidente. A proposta aqui é refletir sobre Valores. Sua pertinência no mundo real e, portanto, no virtual. Pois bem. 

Imediatamente após a divulgação da doença, começaram as manifestações nas redes sociais sobre o câncer de Lula. No Twiter, a hashtag (#) “#ForçaLula” ocupou os primeiros lugares entre os tópicos mais comentados, por algumas horas. Em paralelo, porém, começou um movimento daqueles que faziam chacota com o ex-presidente: o “#LulanoSUS”. Por três dias esteve entre as mais populares. Ironicamente, questionavam por que Lula, com seu perfil populista, optara por se tratar em um hospital privado (e caro!) e não pelo Sistema Único de Saúde (SUS). 

O jornalista Gilberto Dimenstein, conhecido crítico de Lula e colunista da Folha de São Paulo, após perceber o movimento que se criava entre seus próprios leitores virtuais, resolveu publicar um artigo intitulado: “O câncer de Lula me envergonhou”, no qual afirmou sentir “um misto de vergonha e enjoo”. Pasmado, ele afirma ter recebido “uma enxurrada de ataques desrespeitosos, desumanos, raivosos, mostrando prazer com a tragédia de um ser humano.” Veicula-se que foram tantas as manifestações iradas e agressivas que os encarregados pela moderação dos comentários no portal da Folha tiveram que suspendê-los temporariamente. 

Estarrecedor se já não fosse algo corriqueiro para os “costumes” na rede mundial de computadores, recheada de intransigências. Ainda não sabemos lidar adequadamente com outras pessoas neste espaço. É fato. Não é algo restrito a adolescentes, ao twitter ou ao facebook. Até por email - uma quase “assinatura virtual” - há embates sem sentido. Na internet as pessoas se portam de maneira diferente ao que fariam presencialmente. É um fenômeno digno de estudo. Talvez tenha a ver com certo desvio causado pela impessoalidade, individualismo, julgamento instantâneo, comunicação truncada, proteção ao anonimato, abordagens superficiais e até pobreza de vocabulário. Todas características que saltam à vista nos relacionamentos em plataformas virtuais. 

O escritor Luciano Pires faz uma boa reflexão sobre valores e seus contextos: “Há 500 anos era tolerável jogar um criminoso na fogueira. Há 200, ter um escravo. Quando eu era garoto era tolerável caçar passarinhos. Trinta anos atrás era intolerável um casamento gay. Há vinte era intolerável um beijo homossexual em novelas. Cem anos atrás era intolerável ver uma mulher votando. Há 40, intolerável era ver uma mulher de shortinho no shopping.” 

Hoje, como ontem, comportamentos se pautam em valores. Tolerância e Respeito parecem ser centrais. E ainda que estes não sejam absolutos, pois sem epistemologia certa, ainda são consenso para as sete bilhões de pessoas do planeta. 

As mesmas que são internautas. 

Na raça e na paz Dele, 
J. Braga.

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