Se as famílias se omitem, a escola precisa agir - Luis Carlos de Menezes

Estudantes desamparados serão duplamente vitimados ou marginalizados se não receberem uma atenção especial dos educadores

Em minhas visitas a escolas e pelos comentários de leitores da coluna, observo um comentário recorrente: como é difícil trabalhar com alunos que ignoram os professores, se recusam a realizar atividades individuais e coletivas e se divertem em grupos de provocação, agredindo colegas e impossibilitando as aulas, além de outros com a autoestima tão baixa que rejeitam tarefas, achando que não aprenderão mesmo. Os alunos, segundo esses educadores, não teriam recebido a Educação que se espera de casa, deixando seus mestres em situação insustentável. Não é um tema fácil, mas decidi refletir sobre ele porque se trata de uma questão de grande importância. 

Em escolas privadas ou públicas, sobretudo a partir da última etapa do Ensino Fundamental, tenho visto professores sem alternativa senão retirar de classe quem impede o trabalho dos outros. Solução imediatista, mas frustrante. Quando essa situação se repete, é natural conversar com as famílias, mas, por problemas próprios ou da relação com a escola, elas participam bem menos do que o desejável. A questão então é: quando as famílias se mostram indiferentes ao que se passa com seus filhos ou não parecem saber cuidar deles, a escola tem o direito de se omitir? Não. 

Comecemos por distinguir as diferentes situações que podem estar sob o mesmo rótulo para aprimorar seu diagnóstico antes de propor encaminhamentos. Se muitos alunos têm problemas na escola e não fora dela, é preciso rever o projeto pedagógico. Se os problemas só se manifestam em certas disciplinas, é preciso investigar as razões do descontentamento. E comportamentos comuns na adolescência, como afirmação pessoal pela contestação, se agravados por grupos que só respeitam quem desrespeita, com ofensas, pichações e vandalismos, exigem uma intervenção específica. 
Cada caso deve ser tratado sob uma perspectiva educacional e institucional. Mas como não sobrecarregar os professores? Uma saída possível é firmar um compromisso de corresponsabilidade entre educadores, alunos e suas famílias ainda na matrícula e discutir as regras e as infrações a elas em conselhos participativos. Assim, as transgressões podem se tornar menos frequentes. 

Há, no entanto, muitos casos que merecem atenção particular, quando crianças e jovens trazem para a escola carências de descaso e sequelas de maus-tratos, como mostro nos exemplos seguintes: 

- Um menino estava para ser enviado ao conselho tutelar por brigas diárias com quem o provocasse. A mãe, operária com vários filhos de pais diferentes, disse que o "mandassem para lá, que ela também estava desistindo dele". 

- Uma garota admitiu que ficara grávida de um colega de propósito, pois quando tivesse a criança receberia mais atenção. E ela tinha faltado às aulas por duas semanas sem que a escola e a família falassem sobre isso. 

Cada uma dessas histórias teve um desfecho diferente. O menino ganhou a atenção de uma diretora sobrecarregada, mas dedicada, que reconheceu valores nele e o estimulou a controlar sua agressividade. A garota engravidou novamente, deixou a escola e, dois filhos e cinco anos depois, pensa agora em completar sua Educação Básica. A atenção recebida em cada caso fez toda a diferença. 

Conheço outros educadores hábeis para identificar alunos e cuidar deles em diferentes condições de risco. Todos eles sabem que atitudes agressivas ou indiferentes podem ser pedidos de socorro. Por isso, outra possível solução, no âmbito das escolas, é indicar e apoiar esses educadores para fazerem o que sabem. Sem eles, os demais não conseguirão fazer seu trabalho e, o que é mais grave, muitos jovens correm o risco de serem marginalizados de uma forma ou de outra.
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Na raça e na paz Dele,
J. Braga.

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