Os estudantes da USP - André Camargo

Estudantes da USP querem o afastamento do reitor ditador. Não da PM, nem direito de fumar maconha como veicula a grande mídia.
O problema na USP não tem nada a ver com a discussão sobre o uso de drogas. Nem sequer termina na questão da manutenção ou não do convênio com a PM. É uma insatisfação política que vem se acumulando desde que, quebrando uma tradição de décadas, o Serra nomeou o Rodas como reitor, desconsiderando o pouco de democracia que ainda existe no sistema. Ele não foi vencedor da lista tríplice, apontada pela comunidade uspiana para ocupar o cargo. O Rodas vem praticando irregularidades e colecionando desafetos por onde passa. De diretor, passou a persona non grata da Faculdade de Direito (São Francisco). Tudo leva a crer que funciona como parceiro estratégico no projeto do governo estadual tucano.

A verdadeira motivação das manifestações, portanto, ao contrário da versão habilmente criada pela mídia e prontamente adotada pela opinião pública, é a insatisfação quanto à mordaça anti-democrática e o endurecimento autoritário na USP. A presença da PM, vendida como necessidade de segurança, vem se revelando, desde a assinatura do convênio, instrumento de intimidação e constrangimento dos alunos, professores e funcionários - que não têm canais de comunicação efetivos. A quem interessa uma Universidade calada, submissa, que não possa exercer sua função social de crítica e reflexão? Não acho que seja coincidência que tudo isso esteja acontecendo agora na USP enquanto outras praças e universidades estejam sendo ocupadas ao redor do mundo e protestos exigindo uma democracia autêntica vão ganhando voz. 

A Cidade Universitária conta com uma guarda que não funcione direito. A PM nunca foi impedida de atuar no campus, nem é isso que se pleiteia. O que se questiona é um convênio assinado pelo Rodas que torna esta presença ostensiva e intimidatória. Como seria se, no seu local de trabalho, não pudesse circular à vontade sem ser abordado por policiais e submetido a revistas de modo arbitrário? Não é possível realizar trabalho intelectual de qualidade em clima de opressão. O precedente é muito perigoso, tendo em vista, inclusive, o histórico recente no país. 

A maconha foi tão-somente o estopim. As manifestações dos estudantes, com os rostos cobertos como guerrilheiros, me pareceram inábeis e talvez imaturas. Pessoalmente, não concordo nem que a comunidade uspiana deva gozar de condição diferenciada para fumar maconha, nem com o uso de meios violentos para defender suas causas. Também não me agradam as Assembleias do modo como tem sido conduzidas, nem a provável manipulação do movimento estudantil por interesses de um comunismo e de um sindicalismo baratos. 

Entretanto, isso não invalida a causa, legítima, que está sendo defendida e que, a meu ver, interessa a todos dentre nós que repudiam viver em uma sociedade autoritária, rígida, policialesca e sonham com uma participação democrática que não seja de fachada. 

A gente precisa entender o que está acontecendo no mundo neste momento, o papel de uma Universidade como a USP no tipo de nação que queremos ser e a necessidade de preservá-lo das tentações do Poder - dos bancos, das corporações, dos governos e das polícias. Cada coisa no seu lugar.
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Na raça e na paz Dele,

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