Tem sentido ser PJ hoje em dia? - Rogério Oliveira

Vez ou outra surgem alguns profetas do fim dos tempos anunciando a morte da PJ. Uma vantagem de se ter a idade que eu tenho e de ter passado tanto tempo na vida pastoral é saber que estes profetas são frequentes ao longo da história. E que nem sempre suas profecias são cem por cento erradas e nem cem por cento certas.

É certo que estes tais profetas falam a partir da visão de mundo que eles tem. E a partir dos interesses que os motivam a falar. Há também aqueles que fazem tais anúncios como forma de provocação. E a estes eu recomendo que se escute. Provocações são boas porque nos fazem reagir. 

Há quem fale, por exemplo, da sua realidade local de Pastoral da Juventude. Dos grupos que estão desarticulados, dos jovens desmotivados e das assessorias perdidas. É fácil ser profeta do fim do mundo num contexto assim. É a tal da crônica da morte anunciada. 

Mas onde alguns enxergam problemas, outros enxergam possibilidades. Um profeta assim, que cutuca sobre o fim da PJ de determinado local, pode mexer com os brios, com o orgulho da galera que ajudou a construir e a fazer aquela história. 

Hoje, as assembléias, os encontros, os cursos, tem uma lógica e uma maneira de se encaminhar as decisões hoje que são diferentes para mim. Antes, tudo eram atividades que precisavam ser cumpridas. Hoje, estas atividades estão claramente dispostas dentro de um processo. Cada uma delas tem uma contribuição a dar.

Quem fala do fim da PJ pode parecer que é também um frustrado em termos pastorais. O que isto significa? Que o sujeito perdeu todas as suas esperanças neste modo pastoral de agir e só enxerga o lado negativo. Volto a dizer, quem só vê o lado bom das coisas, não ajuda o grupo a avançar, porque pode haver buracos ou desfiladeiros adiante que o excesso de otimismo impede de enxergar. Por outro lado, um negativismo exagerado é um mal também. Afinal ninguém gosta de ficar do lado de um chato.

Mas enfim, há algum sentido nestas profecias de fim da PJ? Sim, há sentido sim. Se olharmos para trás, nestes quase quarenta anos de pastoral, veremos que muita coisa está diferente. Se você olhar aí para sua realidade verá que as soluções de cinco ou dez anos atrás não funcionam tão bem hoje em dia. Ou seja, foi preciso mudar, adaptar-se aos tempos novos.
Falava outro dia com amigos pejoteiros que é muito mais claro para mim hoje o jeito de fazer pastoral do que quando eu estava na coordenação diocesana. Hoje, as assembléias, os encontros, os cursos, tem uma lógica e uma maneira de se encaminhar as decisões hoje que são diferentes para mim. Antes, tudo eram atividades que precisavam ser cumpridas. Hoje, estas atividades estão claramente dispostas dentro de um processo. Cada uma delas tem uma contribuição a dar.

Por exemplo, quem faz assembleia para simplesmente eleger um representante ou secretário, perdeu uma oportunidade fantástica de articulação pastoral ou discussão e encaminhamentos de rumos da PJ. Hoje, as novas lideranças cobram mais os porquês das atividades e os para quês também. E isso é formidável. Aquela PJ que tínhamos há doze, quinze anos, não é mais a mesma.

Por outro lado, os desafios que aparecem hoje no nosso quintal são diferentes também. Diferentes ou mais gritantes. Falávamos antes, por exemplo, que pastoral é o agir da Igreja num determinado campo. Esta era uma definição que cabia bem para a PJ. Será que ainda faz sentido dizer hoje que Pastoral da Juventude é a ação da Igreja para, com e pela juventude? Se hoje estamos dentro de uma organização chamada Setor Juventude da qual somos parte e muitas vezes não damos a linha, e outras tantas vezes pouco podemos contribuir, será preciso revisar o que significa ser “Pastoral”? 

Eu já disse algumas vezes para amigos pejoteiros que se fosse necessário mudar o nome de Pastoral da Juventude, entendida como a ação pastoral que eu desempenho, para qualquer outra coisa (fosse Setor Juventude, Movimento Juvenil, Ação da Juventude, por exemplo), eu aceitaria a mudança DESDE QUE a essência permanecesse a mesma. 

E PJ tem essência? Claro que tem! São opções fundamentais das quais não podemos abrir mão sob risco de nos descaracterizarmos. São estas opções que nos dão a nossa Identidade. E identidade não é algo que ganhamos, mas é algo que construímos. 

Quando falamos, entre outras coisas, na opção pedagógica por pequenos grupos, pelo uso do método ver julgar agir rever e celebrar, da importância da formação integral, da centralidade da proposta de Jesus que ele encarnou em sua própria vida e que hoje nos motiva a continuar, falamos de opções necessárias para a Igreja e para o mundo juvenil. Falamos de identidade pejoteira. 

E reafirmamos que, independente das mudanças que o tempo nos obrigue a realizar, estas opções são marcas que levamos adiante. São expressões que gritam de volta para os profetas do fim do mundo que a PJ vive. São afirmações que ajudam os pessimistas a refletirem, que reanimam os caídos e as sem forças. “Apesar de todo cansaço, de toda decepção e amargura, não temos o direito de perder a esperança; a desesperança é heresia!”, disse Dom Pedro Casaldáliga. Por isso, vamos embora, andar, pejoteiros e pejoteiras. Identidade se faz com opções sim, mas olhando também os gritos e necessidades do mundo ao nosso redor. E quem anda, amplia o olhar. Há muita necessidade de PJ por aí.
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Na raça e na paz Dele,
J. Braga.

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