Como escrever um texto que preste

Gosto de ler. Faz algum tempo, comecei a escrever. Cada aprendizado que faço (geralmente pela leitura e/ou observação do cotidiano) me provoca uma necessidade de registrar conceitos, ideias, ensinamentos. Aprender é delicioso, mas me parece que as descobertas restritas ao mero "pensar" não se sustentam sem registro palpável. Ou melhor, escrito. Senão passa e a gente esquece. 

Meu filho foi um dos causadores dessa nova forma de me relacionar com aprendizados. Já contei isso em outro texto. Não queria deixar passar, sem mais, os encantos dele (e os meus) com cada descoberta que fazia. Como toda criança de dois anos, ele, quando aprende algo novo, se surpreende com ênfase. Sabe aquela tomada de ar de susto (sem ser susto), com olhar arregalado e sorriso no rosto?! Pois é. Não que, adulto, alguém precise manter os mesmos olhares e suspiros, mas perder o encanto em aprender...jamais! Escrever, então, oxigena o cérebro, retroalimenta descobertas. E, muitas vezes, oferece profundidade aos aprendizados. Fixa a matéria, entende?!

Quando adolescente alguns professores me sinalizaram certa inclinação que tinha para escrever. Alguns elogios, até. Mas não dava muita atenção porque achava que os professores falavam isso para todos os alunos. Também porque o que eles diziam ser "facilidade para escrever" era, na verdade, muito esforço em produzir algo bom, legal de ler. Só eu sabia o quanto a tal "facilidade" era trabalhosa. Não acreditava naquele anunciado dom. Até hoje desconfio quando me falam disso. O que consigo produzir, ontem e hoje, é sempre resultado de dedicação, esmero, rejeição à mediocridade. 

Esse texto, mesmo, até esse parágrafo, já mexi uma trezentas vezes. Outras quinhentas ainda virão até a última linha. Certeza.

Agora...entendo que os aprendizados que faço tem maior ou menor utilidade para outras pessoas quando consigo equilibrar dois ingredientes: a boa exposição de argumentos e o respeito à inteligência alheia. Sempre com o molho saboroso das ilustrações. Diria que, para comunicar bem, os textos precisam funcionar como "aperitivos". Atiçar o paladar intelectual de quem lê, pelo sabor e consistência das ideias, mas sem cair na tentação de dar a última palavra sobre o assunto. Soaria arrogante e presunçoso. Bons aperitivos apenas preparam o paladar para a experiência gastronômica do "prato principal". Esse eu não ofereço, pois sacia a vontade de comer. E encerra os ciclos do pensar.

Os textos que escrevo prezam pela resposta que os leitores são capazes de dar a questões próprias de suas vidas. Tem a ver com provocação mesmo. Das boas, não das que agridem. Por isso evito infinitivos e imperativos verbais, como se o que penso ser bom para mim fosse universalmente replicável. Não é. E mesmo que algumas respostas, para mim e para você, sejam parecidas, é sempre mais autêntico que cada um trilhe seu caminho, respeite seu ritmo e tire suas conclusões. Meu interesse, repito, é atiçar. Não julgar. Quem quiser aprofundar algum assunto lido em texto meu que vá atrás. Busque. Pesquise. Nessa hora, minha parte já estará feita.


Pensando nisso, se você gosta de escrever, repare que verbos no futuro do pretérito e expressões como "parece", "geralmente", "demonstra" preservam melhor, ao que parece (com o perdão da redundância), a ideia de que o texto é inconcluso. Não é dono da verdade. Apenas dispara uma reflexão. Respeita a inteligência do leitor. Sabe que ele pode chegar a conclusões pertinentes.

Leio textos que respingam agressividade, raivosos até, pois determinados a fazer prevalecer o que pensam  seus autores. Quase sempre confeccionados sob a paixão ideológica, sem nada de gentileza. Pretensos "formadores de opinião". Daqueles que se acham bastiões da razão e da verdade. Convém ter cuidado com isso, pois quando um interlocutor discorda de certos juízos - às vezes morais - tende a abortar tudo, inclusive o que se poderia aproveitar.

Escrever um texto que preste não é coisa de gênio. Mas tem que influenciar o principal indicador do bom leitor: o Q.I2.

Quociente de Instigação Intelectual.

(801 mexidas no texto depois...)

Na raça e na paz Dele,
J. Braga.

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