Pelo fruto se conhece a árvore - Rogério Oliveira

Um dos textos que mais me deixou feliz quando terminei de escrever foi o da Árvore Pejoteira. Foi tão gostoso escreve-lo e deu uma repercussão tão bacana (veja, por exemplo aqui) que, apesar de ter sido escrita em fevereiro de 2011, até hoje tem gente me escrevendo a respeito deste texto.

Desde muito tempo, árvores e frutos são exemplos de boas metáforas a respeito do trabalho e da dedicação humana em diversos empreendimentos. Na PJ também se usa deste tipo de linguajar: “frutos do trabalho pastoral”, “plantar uma boa semente”, “esta missão frutificou muito”.

Na lógica do mercado fala-se muito na gestão por resultados. Claro que os resultados são importantes, mas na pastoral privilegiamos os processos, o “como é feito”. Na metáfora arboril, podemos dizer que a PJ sabe da importância dos frutos, mas tem um cuidado especial e um acompanhamento dedicado para com a árvore até que cheguem estes frutos.
Se plantamos autoritarismo, centralidade das decisões, um espiritualismo barato e rasteiro, panelinhas, discussões, não espere colher um grupo pejoteiro, democrático, libertador e sinal do Reino de Deus.
Aqui em casa eu tenho um cantinho de terra no quintal. Já tinha um pé de laranjas. Conseguimos plantar uma bananeira, um pé de mexerica e outra laranjeira. Estas duas últimas foram mudas enxertadas, plantadas há uns dois anos e meio. A primeira laranjeira está no terreno há mais de onze anos. Perceber os ciclos delas dá um bom aprendizado.


A laranjeira velha produzia frutos bem pequenos e secos. Por mais de uma vez achamos que não valia a pena cuidar mais dela. Meu pai podou a árvore num período em que poderia ser podada, adubou-a e disse que daríamos mais uma chance a ela. Ela voltou a dar frutos pequenos. Só que desta vez eram bem doces. Mantivemos a árvore por mais um ano. Ontem eu estava reparando nela. Estava linda. Repleta de flores brancas nos galhos e pelo chão. Acho que estará carregada antes do próximo outono.

A laranjeira nova é pequenina, mas já está florida novamente. Já deu bons frutos. O pé de mexerica não. Nunca deu frutos. É pequeno e mirrado. Voltou a ser adubado. Vamos aguardar mais alguns anos. Talvez não tenha chegado o tempo dele.

Um problema de nossas comunidades e grupos é que muitas vezes nos esquecemos deste cuidado. Como árvores no fundo do quintal, deixamos nossos grupos à própria sorte, sem adubá-los, sem podá-los no tempo certo ou podando-os a todo e qualquer momento. Como vão dar fruto? E, se derem fruto, será que ele será saboroso ou nutritivo?

Um outro e tão grave problema quanto este é o do grupo que acha que sua sombra basta. Claro que em dias de calor, uma boa sombra é certeza de alívio. Mas o Agricultor não quer um monte de árvores que só deem sombras. Quer bons frutos.Terrenos escuros ou com pouca luz praticamente não produzem outras plantas e se elas teimam em nascer, não crescem muito.

No Evangelho de Mateus há a seguinte passagem: “Na manhã seguinte, voltando para a cidade, Jesus ficou com fome. Viu uma figueira perto do caminho, foi até lá, mas não achou nada, a não ser folhas. Então Jesus disse à figueira: ‘Que você nunca mais dê frutos.’ E, no mesmo instante, a figueira secou”. (Mt 21, 18-19). 

Somos promotores da vida. Viemos para dar frutos e fazer frutificar o Reino de Deus. Nossos processos de acompanhamento, adubagem e poda são importantes. Mas o resultado tem que sair. Não podemos criar grupos que façam só sombra e que impeçam os outros de crescerem. Vivemos num tempo em que os próprios jovens não têm paciência de esperar tanto tempo para ver o resultado de seu próprio trabalho. O tipo de fruto que se colhe diz muito da árvore e de como ela foi cuidada.

Por fim, que ninguém tenha a ilusão de que plantando limoeiros irá colher maçãs. A semente que plantamos dará frutos semelhantes aos que a originaram. Se plantamos autoritarismo, centralidade das decisões, um espiritualismo barato e rasteiro, panelinhas, discussões, não espere colher um grupo pejoteiro, democrático, libertador e sinal do Reino de Deus. Quem planta, colhe. Pelos frutos, sabe-se muito a respeito da árvore.

Comentários

Postagens mais visitadas