Como o dinheiro pode me fazer melhor?
SOBRE PEDRO DE LARA E O DINHEIRO DO PATRÃO
André Camargo
Este texto começa com o filósofo Pedro de Lara. Se você é muito mais novo ou muito mais nova do que eu, não vai saber quem foi Pedro de Lara. Nada que um google não resolva.
“Tem gente que é tão pobre, mas tão pobre, que só tem dinheiro.” Dizem que Pedro referia-se a seu patrão, Silvio Santos (não, você não pode ser assim tão jovem a ponto de não saber quem é Silvio Santos).
A maioria das pessoas pensa que alguém que tem dinheiro é rico. Não é verdade. Tem gente que tem dinheiro e é pobre, como Pedro de Lara acreditava ser o caso do Silvio Santos. E tem pessoas que não têm dinheiro, mas são ricas.
Veja: não vou tratar o dinheiro como tabu, nem acredito que é mais difícil um rico entrar no Reino de Deus que um camelo passar pelo buraco de uma agulha. Também não acredito que ter dinheiro é sinal de que Deus gosta de você. Ou que toda pessoa cheia de grana é fútil ou pilantra. Ter ou não ter dinheiro, por si só, não faz de você uma pessoa melhor ou pior. O que faz de você uma pessoa melhor ou pior é o que você aceita fazer para ganhar dinheiro e o que faz com o dinheiro que tem.
Riqueza tem a ver com a capacidade de gerar prosperidade e abundância. As pessoas comuns em geral ou têm muito dinheiro, mas não têm tempo para nada ou têm tempo de sobra, mas sérias limitações financeiras. De um ou de outro jeito, são escravas do dinheiro.
A pessoa comum sempre ganha pouco, por maior que seja seu salário. Talvez ela mude de emprego, ou seja surpreendida por uma herança, e seus rendimentos dobrem. Talvez tripliquem. Mas as necessidades percebidas das pessoas comuns crescem de acordo com seus rendimentos. A pessoa comum gasta sempre um pouco mais do que ganha. Ela deixa-se controlar pelo impulso de consumir. E, quanto mais consome, mais rica se sente - mesmo endividada até as tampas!
A capacidade de gerar riqueza depende do que você faz com o dinheiro que tem. Uma forma pouco comum de gerar abundância é por meio de simplicidade voluntária. Você observa seu padrão de consumo com objetividade e abre mão das coisas que adquire por impulso, mas não fazem diferença, realmente, na sua alegria de estar vivo e de ser quem você é. Aliás, ter muita coisa pode produzir o efeito contrário: diminuir sua alegria.
É como, por exemplo, uma criança rodeada de brinquedos. Ela fica perplexa. Não há jeito de brincar com tudo aquilo, então vira angústia. A criança precisa de pouco, às vezes apenas uma pedra ou um pedaço de pau para ser a sua casa ou o seu cavalo. Uma criança rodeada de brinquedos de plástico coloridos e barulhentos, com frequência presentes compensatórios pela falta de atenção dos pais ocupados demais ganhando dinheiro, é uma cena deprimente: eles - os estímulos em excesso - destroem sua criatividade. E a oportunidade de criar mundos imaginários onde brincar a partir do suporte de objetos materiais discretos é não apenas a fonte da criatividade, mas da felicidade infantil. É a base da saúde emocional.
Neste sentido, nunca deixamos de ser criança: continuamos precisando da sensação de que somos capazes de criar a realidade que queremos para nós. De que somos os donos legítimos dos próprios enredos. Ser protagonista da própria vida não é possível, entretanto, se nos tornamos reféns da busca por dinheiro (se estamos sempre ocupados, preocupados, com pressa, excitados) e de tudo o que o dinheiro pode comprar.
No outro extremo, há as pessoas que, por medo, vivem na penúria. Medo de não ter, medo de ter e perder. Mesmo que tenham muito dinheiro, não conseguem usá-lo para proporcionar a si e a seus dependentes algum conforto e boas oportunidades. É o complexo de Tio Patinhas: quanto mais dinheiro, maior a preocupação, o medo de perder ou de ser roubado.
Dinheiro traz felicidade? Depende. Pode muito bem trazer infelicidade. Usar seus recursos com sabedoria e criatividade – consumir com sobriedade, poupando e investindo para gerar mais recursos financeiros, mais tempo para fazer o que gosta e não descuidando das relações afetivas – é gerar abundância.
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Na raça e na paz Dele,
J. Braga.
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