O Boss of Departament
Um amigo trabalha na área de comunicação dentro de uma multinacional. Recentemente ele se envolveu num processo para uniformização dos cartões de visita. As regras existem, mas a cada cinco anos, com a ajuda dos departamentos de compras, as cores dos cartões, tipos de letras, layout, tipo de papel, tudo muda, E descobre-se que cada um tem um cartão de visita diferente, fora do padrão que um dia existiu. E então a diretoria baixa o sarrafo, manda arrumar e o processo começa de novo. Por mais cinco anos...
Pois meu amigo começou um levantamento para entender a extensão do problema. E ficou horrorizado. A encrenca cresceu. Não é só uma questão de layout ou de cores. Os caras começaram a escrever o que queriam nos cartões. A empresa é multinacional, portanto, os cargos devem ser escritos em inglês. E foi assim que meu amigo encontrou um cartão de “boss of departament”. Provavelmente traduzido por uma figura que distribui o cartão orgulhosamente dizendo:
- Viu só? Me Tarzan!
E lá vai meu amigo criando inimigos, mandando refazer e sendo taxado de encrenqueiro e de “agregador de custos”.
Não canso de me espantar com a infinita incapacidade que as pessoas têm de não enxergar o óbvio. Mas acho que estou exigindo demais. O óbvio talvez não seja tão óbvio. Um logotipo torto ou com a cor errada. Um tipo de letra em desacordo com o padrão. Um folheto mal escrito. Um uniforme sujo. Uma fachada velha e maltratada. Alguém que atende o telefone dizendo “poblema”. Outro que escreve um e-mail dizendo “seje”. Um evento mal iluminado. Uma foto tremida... Detalhes que só incomodam o cara de comunicação, que ganha pra complicar as coisas e deixá-las mais caras.
Quando era diretor de uma multinacional recebi uma delegação da prefeitura da cidade na sala de reunião da empresa. Uma sala bem resolvida e com móveis bonitos e confortáveis. A manifestação do grupo:
- Nada como ter dinheiro...
Retruquei que aquilo não era apenas dinheiro, mas principalmente respeito pelas pessoas que usam a sala, cuidado com a reputação da empresa. Mas só depois me dei conta. Aquelas pessoas estão acostumadas com móveis velhos. Com suco quente. Com desconforto. Com unhas sujas. Com “poblema”. E eram todos com nível de chefia. Eram “boss of departament”. Foram educadas para o “padrão de utilidade”.
Cumpre a função? Então tá bom. Não precisa ser “bonito”. “Agradável”. Dá pra entender que “boss of departament” é chefe de departamento? Então tá bom. E assim vamos aceitando como normal o que é mais ou menos, o que é meia boca. Construindo nossa reputação de país divertido, bonito, hospitaleiro, que tem gente feliz e que faz tudo nas coxas.
O país do boss of departament.
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Na raça e na paz Dele,
J. Braga.
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