Comunicação nas empresas - Ivan Carlos Witt
Com um olhar desafiador, o psicólogo Bruce Gibb, da Universidade de Michigan, que conduzia um treinamento sobre como melhorar as habilidades cognitivas dos líderes (no ano de 1987, em Chihuahua, no México, onde estávamos iniciando uma nova fábrica da então divisão eletrônica da Ford, num dos muitos finais de semana que usávamos para treinamento e planejamento) perguntou ao grupo de trabalho se alguém se achava um bom comunicador.
Nessas situações torcemos que o instrutor não se lembre da gente e escolha outra vítima. Mas ele lançou a pergunta, e ficou circulando na sala, olhando, buscando alguém para dar sequência ao programa do dia. Levantei a mão. Além do português nativo, estava aprendendo espanhol em bom ritmo e meu inglês era suficiente para sobreviver. Estando ali, não havia dúvida, me comunicava bem ou, no mínimo, satisfatoriamente.
Bruce, americano, falava espanhol com desenvoltura. Convidou-me para ir até o centro da sala e explicar porque me considerava um bom comunicador. Falei sobre não ter medo de aprender e errar, disse que gostava de interagir com pessoas e falando, exercitando, havia atingido um nível razoável nos idiomas nos quais não era nativo e que, por isso e pela minha cara de pau, me considerava um bom comunicador. Não houve objeções (será que me entenderam?).
O que aconteceu depois, foi um momento especial, de bastante aprendizado.
Bruce me convidou para acompanhá-lo até a mesa. Pediu para que eu escolhesse um entre os diversos cartões coloridos que tinha na mão. Peguei um e olhei para o objeto desenhado nele. Deu-me alguns minutos. Ele então pediu para aos demais que estavam na sala, aproximadamente 25 pessoas, pegassem uma folha de papel em branco e um lápis, e que se espalhassem pelas mesas de maneira que não fosse possível ver o que o outro desenhasse.
Bruce me convidou para acompanhá-lo até a mesa. Pediu para que eu escolhesse um entre os diversos cartões coloridos que tinha na mão. Peguei um e olhei para o objeto desenhado nele. Deu-me alguns minutos. Ele então pediu para aos demais que estavam na sala, aproximadamente 25 pessoas, pegassem uma folha de papel em branco e um lápis, e que se espalhassem pelas mesas de maneira que não fosse possível ver o que o outro desenhasse.
Eu estava concentrado no que via no cartão. Era uma figura geométrica que não se assemelhava a nada. Pontas, semicírculos, poliedros unidos de uma maneira estranha. Bruce então solicitou que eu descrevesse ao grupo, sem mostrar a figura, o que eu estava vendo. Lentamente, fui narrando àquelas pessoas o que via no cartão. Bruce nos deu mais alguns minutos para a tarefa.
Terminado o tempo, o psicólogo repetiu a pergunta: Ivan, você é um bom comunicador? “Acho que sim”, respondi. Ele pediu a todos que escrevessem o nome na folha e a pendurassem com durex na parede. Foi revelador! Nenhuma imagem era igual. Nem havia nada parecido ao objeto que eu havia visto no cartão.
Problemas de comunicação e suas consequências variam de mal-entendidos sem importância a acidentes fatais. Entre o que é dito e o que é ouvido, há uma infinidade de possibilidades de entendimento, todas altamente influenciadas pelo modelo mental de cada ouvinte. Não vou estender-me sobre as teorias da comunicação eficiente, tema fartamente documentado e que merece a atenção daqueles que buscam aumentar suas chances de sucesso. Mas esse episódio alertou-me sobre as confusões que eu poderia causar, certo de que me expressava bem e claramente.
Dizer que algo deu errado por problemas de comunicação é algo banal nas organizações. Mas de banal a comunicação não tem nada. Dominar as técnicas adequadas, cuidar dos detalhes, e certificar-se sempre que o recado foi dado e entendido é matéria básica para quem aspira ganhar posições no mundo corporativo.
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Na raça e na paz Dele,
J. Braga.
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