"Só me arrependo daquilo que não faço, não do que faço"







Sabe aquele pessoal metido e/ou deslumbrado que aparece dando entrevista na TV dizendo que "não se arrepende de nada do que faz, só do que não faz"?! Com certeza você já deve ter visto alguma sub-celebridade, jogador de futebol ou artista que emitisse essa "pérola". Pois é. Há algum tempo percebo essa opinião como algo recorrente. Quem sabe você, que está lendo esse texto, também não pense parecido, não é?! Parece algum conceito já disseminado no inconsciente coletivo. Só os mais atentos filtram essa afirmação e, reflexivamente, se questionam sobre seu conteúdo. 

Penso que esse tipo de opinião personalista e midiática seja um contraponto à mentalidade puritana e obscura, de religiosidade mal compreendida. E nada mais precipitado que rebater uma visão a partir de uma polarização. Se a gente pudesse espremer, feito laranja, os emissores de tais pérolas, talvez não conseguíssemos recolher mais do que algumas boas doses de presunção e imaturidade. Afinal de contas, quem não erra na vida? E se erramos, qual o demérito em se arrepender pelo equívoco? Por acaso, sou menos gente se reconheço que errei? Não seria o contrário? 

"Errar é humano". É uma frase tão conhecida quanto mal interpretada. A princípio, as pessoas a entendem como uma espécie de indulgência frente ao fato de que "a carne é fraca" ou algo do tipo (é que nem: "navegar é preciso, viver não é preciso!", mas dessa falo em outro texto). Nada disso. O erro só é possível enquanto consciência de realização daquilo que não foi ideal, ainda que não intencional. Isso significa, por exemplo, que bicho não erra, pois segue a ditadura do instinto. Se o leão come sua presa de cada dia, já basta para ele. Não há erro se seu primo tigre morre de fome por perder todas as disputas pelas presas. Egoísmo e intenção não fazem sentido no mundo selvagem. 

No nosso faz. 

Pessoas erram porque nem sempre se relacionam, falam, entendem ou se comportam de determinada maneira. E por mais que "satisfazer os instintos" seja regra de vida de alguns, isso não significa que sejam isentos ao erro. Simplesmente não o reconhecem, isto é, se permitem assemelhar ao mundo selvagem, mais que à humanidade. 

Mas isso só conclui quem cultiva a interioridade, algo pouco comum entre os que "se acham".

Se errar é humano, arrepender-se é divino! 
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Na raça e na paz Dele, 
J. Braga.

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