São Marcelino Champagnat e minha Vocação

São Marcelino Champagnat
Ser marista me ficou mais claro com a oportunidade de vivenciar uma experiência singular, de dois dias e meio, mês passado, na belíssima ilha de Itamaracá-PE. Foi daqueles encontros que trataram do essencial: conversar sobre quem somos e o que queremos. Sem tantas induções de metodologia e planejamento, importantíssimas, mas capazes ofuscar intuições vocacionais originais. Afinal de contas, só quem sabe quem é, saberá o que quer. E isso vale tanto para indivíduos como para instituições. Éramos vinte. Dois irmãos e dezoito leigos de caminhada marista. Estivemos os convocados do Norte-Nordeste que, no entender da Província, são capazes de disparar um sistemático processo, sem volta no Instituto: a Missão compartilhada de Irmãos e Leigos, sob inspiração de São Marcelino Champagnat, nosso fundador.

Não trato de publicar, aqui, tudo que vi, ouvi e falei, mas talvez de refletir fragmentos de quem era, fui e sou. Até hoje, talvez tenha sido minha melhor oportunidade de reler e expressar, a quem de direito, tudo de benfazejo e de doloroso que me proporcionou a vida nessa caminhada junto aos Irmãos. Sem dúvida, dores e alegrias essenciais para temperar minha identidade, do alto dos meus 30 aninhos. Fazendo um cálculo rápido, 12 (de aluno) + 5 (de colaborador) = 17, já se constata que mais da metade da vida estive envolvido nessa história. E que história! Daquelas que superam seus protagonistas, pois nunca terminam, diria Ir. Emili Turú. Identificar Leigos, de maneira formal e institucional, como genuinamente maristas é "re-conhecer" o próprio carisma. É permitir que grandes histórias, como a iniciada com Marcelino, se perpetuem para além de seus personagens: Irmãos e Leigos. 

Ser chamado e reconhecido como marista é ótimo. Mas quem disse que dá "status"?! Às vezes, acaba sendo é o contrário. Senão vejamos.

São José, meu patrono e chará, ensina uma lição fundamental: o chamado que Deus nos faz na vida é, inclusive, causador de constragimentos. José, noivo de Maria, foi impactado pela gravidez da Virgem. Recebeu a notícia dela? Penso que não. Antes de dar a luz, provavelmente ela, sem jeito, nunca tenha tocado no assunto. Mas ele percebeu quando sua barriga cresceu. Maria estava grávida! E não era dele. Sua primeira reação não foi muito positiva. Certamente ficou tonto, pensou como ela teria sido capaz de trai-lo. Um senhor experiente enganado por uma jovem, ainda antes do casamento. Que triste! Resolveu abandoná-la em segredo. Aquela foi a reação natural de um homem normal, mas que soube preservar a mulher que amava, mesmo diante de uma situação tão constrangedora. Depois disso, sabemos o que aconteceu. O anjo apareceu a ele em sonhos e ficou tudo entendido, para a paz do "Justo". Vocacionado a ser pai adotivo do messias, José sofreu à beça, mas, certamente, assimilou tudo depois de um tempo.

Deus nos faz chamados, mas estes não oferecem felicidade automática. Não é a vocação, por ela mesma, que nos proporciona a felicidade, mas a fidelidade a um projeto mais amplo. Ninguém é feliz porque respondeu uma vocação a ser Leigo, Padre, Irmão, Freira, Pai, Mãe, Professor, Político, Médico, Advogado, Administrador ou Engenheiro. A felicidade emerge a partir de uma clareza de propósito de vida, daquilo com que me engajo e comprometo no meu dia-a-dia, da forma como lido com aqueles que convivo e, finalmente, para quem crê em Cristo, da realização de tudo isso segundo o projeto de Jesus: antecipar o Reino de Deus aqui e agora na terra. 

Veja que, nessas referências, há sempre um "movimento" de dentro-para-fora, um si-para-o-outro, pois se uma vocação é vivida para si, centrada na satisfação individual, é incapaz de responder um projeto de amor que transborda tudo e todos. Pode até ser legítima, como de um rapaz que tenha mesmo jeito pra ser Padre, um senhor casado chamado a ser Leigo Marista ou de uma moça que tenha potencial para Presidenta da República. Se vivida sob um parâmetro egocêntrico, a vocação não só cristalizará pessoas infelizes, como, pior, implicará na frustração de inúmeras outras.

Quem sabe não seja à toa que felicidade rime com fidelidade. Pode ser um sinal da Providência...

Itamaracá deu o que pensar! Que São José nos ajude a entender!

Na raça e na paz Dele,
J. Braga.

p.s.: Texto escrito dia 6 de junho, em homenagem a São Marcelino Champagnat e a todos os maristas, Irmãos e Leigos, espalhados pelos cinco continentes, sob a bênção da Boa Mãe. Amém.

Comentários

Postagens mais visitadas