Limites (ou falta deles) no Humor


Fabio Rabin, 29 anos, redator e ator do “Comédia MTV”, um dos mais elogiados programas de humor da televisão brasileira, participou do “UOL Vê TV” nesta quarta-feira (25). Foi a primeira vez que um integrante da equipe falou publicamente sobre a repercussão da esquete “Casa dos Autistas”, exibido em março, que levou a emissora a pedir desculpas por ultrapassar “os limites aceitáveis do humor”.

A entrevista com Fabio merece ser ouvida com atenção. Corajoso, ele faz uma defesa do humor sem limites, mas entende que o humorista precisa avaliar o “custo-benefício” de cada piada. Quando o impacto causado pela piada é maior que a graça dela, como ocorreu com a esquete do “Casa dos Autistas”, é sinal de que não vale a pena. Conta que já criou outras piadas sobre o mesmo assunto, mas não sabe se a MTV as exibirá.

Judeu, parente de Clarice Lispector, Fabio conta que está sempre fazendo piadas sobre a sua origem. Por conhecer a história, diz, evita alguns temas, como o Holocausto, mas não condena quem, como Danilo Gentili, faz piada sobre este assunto. “Não tenho como discriminar quem faz esta piada, porque a minha profissão é essa. Senão estou indo contra mim mesmo”, diz.

A entrevista com Fabio Rabin pode ser vista na íntegra na TV UOL (acima). Selecionei alguns trechos abaixo:

LIMITE PARA O HUMOR
Não existe, não. Senão perde a graça. A gente tem que saber qual é a situação, qual é o limite da situação. Um amigo seu acabou de morrer, você vai no velório, está numa roda e conta uma piada. Ninguém vai gostar de você. Agora, humor não tem limites. É possível pensar em piadas de tudo. Qualquer humorista que fala que tem limites está mentindo. No fundo, no fundo, por pior que seja a tragédia, a gente pensa “que pena”, mas em seguida já formula uma piada. A questão é saber se você vai falar ou não. Você tem que sofrer com as consequências.
CASA DOS AUTISTAS
A gente assistiu palestras sobre autismo. A gente foi punido. Mas foi muito legal. Eu não sabia: o Einstein era autista. Na real, a ideia da esquete era um mero trocadilho, mas acabou ofendendo muita gente. É o tipo de piada que não precisava. A graça era menor do que o impacto dela. Quando isso acontece, é ruim. Podia ter sido uma piada mais forte, que teria superado isso.

OUTRA PIADA SOBRE AUTISTAS
Escrevi outra esquete sobre autismo, mas explorando outro lado. É um cara sozinho numa mesa, e tem outros dois caras falando: “Olha esse cara, não fala com ninguém. Deve ser uma merda a vida dele. O cara é o maior solitário”. E aí corta pra um plano dentro da cabeça do cara, que é ele rodeado de mulheres, cheio de gente. Quer dizer, na cabeça dele é bem mais legal. Não sei se vai ao ar. Mas é outra maneira de você tocar no ponto. Acho que dá pra você fazer humor com tudo sem desrespeitar. A merda que a gente fez foi ter apresentado uma esquete mostrando o lado negativo do autista. Isso foi pesado. Foi infeliz. Se a gente pudesse voltar atrás, não teria feito. Mas já foi.

PIADA DE JUDEU
Fiz um show na Hebraica e me “brifaram”: “não faz piada sobre guerra”. E eu só fiz piada sobre guerra. Porque guerra é o que acontece lá. Israel tem tanta guerra que o mar que tem lá é o Mar Morto. E o outro é o Mar Vermelho, que é sangue. Você tem que fazer piada sobre o que acontece. Mas tem coisas mais difíceis. Fui criado em colégio judaico. Aprendi o que aconteceu em determinadas épocas. O Holocausto. Os caras faziam experiência de rato com os judeus. De arrancar a pele pra fazer abajur. De pegar um olho azul bonito de uma mulher e fazer um pingente. O horror. Eu conheço esta história. Mas eu não julgo, não tenho como discriminar quem faz esta piada, porque a minha profissão é essa. Senão estou indo contra mim mesmo.

DANILO GENTILI
Danilo é um excelente comediante. Ele fez uma piada que foi infeliz, pra ele, de resultado. O custo-benefício da piada. Eu não fiquei nada chateado. Entendi a piada. Se eu falar que dei risada, os judeus vão me matar (risos), mas eu achei… Ele comentou um fato. Não falou que os judeus têm que morrer.

PÂNICO
O “Pânico” se supera na característica do humorista louco. Porque o humorista não é só o cara que tem um texto, segue uma lógica, mesmo que seja uma piada genial. Tem uma característica do humor que me faz rir que é o louco. Você não sabe o que esperar dele. Muitas vezes, pelo fato de você querer ser louco, você erra a mão. Mas isso me faz assistir um programa também.

HUMOR NA TV
A TV precisa relaxar. Saí do “Pânico”, um programa onde eu tinha que dar audiência, além de fazer graça, e fui para o “Comédia MTV”, onde a nossa única preocupação é fazer rir. Conversando com outros comediantes da Globo, os caras falam que a dificuldade é exatamente esta: é você ter que dar audiência, é você estar sempre na competição. Quando você está muito na competição, você se limita na criação. O que a TV precisa é ter mais liberdade.
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Na raça e na paz Dele,
J. Braga.

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