As religiões no início do terceiro milênio - Dom Murilo Krieger
Nas últimas décadas do século passado, multiplicaram-se “profecias” que anunciavam para breve a morte de Deus e o desaparecimento das religiões. Passada a primeira década do terceiro milênio, sociólogos constatam, surpresos, que o homem e a mulher de nosso tempo sentem uma profunda necessidade de fazer experiências religiosas. Em outras palavras, os progressos técnicos, as novas invenções e os inúmeros produtos que a indústria coloca à disposição da sociedade não têm apresentado uma resposta que satisfaça o inquieto coração humano. É verdade que a procura religiosa nem sempre é correta. Constata-se, por vezes, a busca de uma religião sem Deus, de uma fé sem compromisso e de uma experiência mística que nada tem de transcendental. Não se trata, pois, de uma verdadeira busca de Deus, mas de si próprios. Querem uma “religião” que os acalme e lhes possibilite experimentar sensações agradáveis. Querem, na verdade, um “spa” espiritual...
A população mundial está ultrapassando a casa dos seis bilhões e meio de habitantes. Desses, pouco mais de dois bilhões são cristãos. Assim, dois mil anos depois que Jesus Cristo anunciou a boa nova, convidou todos a segui-lo e mandou os apóstolos irem pelo mundo para ensinarem e fazerem o que ele ensinou e fez, somente um em cada três habitantes do mundo é cristão. Há muito que fazer, portanto, para que se realize o que Jesus colocou como meta para os seus: “Fazei discípulos meus todos os povos...” (Mt 28,19).
Números são números. A importância de uma religião não se mede pela quantidade de seus membros. No cristianismo, por exemplo, de que adianta alguém proclamar que é cristão, se não acredita que Jesus Cristo é o Filho de Deus vivo, o salvador, o mestre, o irmão e amigo? Se não procurar amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo? Se não perdoar aos inimigos, não se interessar pela comunidade e não colocar os ensinamentos de Jesus em prática? Cristão é aquele que procura amar os outros como Jesus Cristo o ama. Nisso será reconhecido como seu discípulo.
A fé não é produto de “marketing”. A propaganda pode até ajudar uma igreja a conseguir adeptos. Não será capaz, contudo, de transformar as pessoas, levando-as a uma adesão interior que se manifestará, depois, em seu comportamento. A conversão é obra do Espírito Santo. Já o fanatismo é filho da ignorância. Fanático é aquele que, por ser limitado em seus conhecimentos, sente-se inseguro, não escuta ninguém, ataca os demais e procura calar a voz de quem pensa de forma diferente da dele.
Jesus Cristo se preocupou não com números, mas com a fidelidade de seus seguidores. Certa ocasião, depois de multiplicar os pães para alimentar uma multidão faminta, disse aos que o cercavam que lhes daria sua carne como alimento e seu sangue como bebida. Que decepção para os que o ouviam! Escandalizados, muitos começaram a murmurar e o abandonaram, deixando-o quase sozinho. Seria de se esperar que Jesus voltasse atrás em suas afirmações, para reconquistar os que tinham ido embora. Em vez disso, voltou-se para seus apóstolos, que continuavam, fiéis, a seu lado, e perguntou-lhes se não queriam também ir embora. Em outras palavras: ou aceitassem o que lhes dizia, porque o que ele havia dito era mesmo o que lhes queria ensinar, ou que buscassem outro Mestre e Senhor.
A celebração, hoje, de Pentecostes, é um apelo para apresentarmos a todos, com renovada disposição, a proposta de Jesus Cristo. Não podemos obrigar ninguém a segui-lo. Podemos e devemos possibilitar que cada pessoa tenha condições de conhecê-lo. O coração humano está aberto ao sobrenatural, ao religioso, à fé. É necessário, pois, lhe apresentarmos a verdade que liberta, o amor que constrói e o evangelho que é um caminho de vida. Além de cumprirmos, dessa maneira, a ordem de Cristo (“Fazei discípulos meus todos os povos...”), estaremos possibilitando que se atualize o que aconteceu por ocasião da vida do Espírito Santo, em Jerusalém: tendo ouvido anunciar as maravilhas de Deus, muitos de converteram e foram batizados.
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Na raça e na paz Dele,
J. Braga.
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