Religião light: o "x" da questão!

Até tradições tem que ser "light"
Coordeno a catequese da escola em que trabalho. Atendendo uma mãe por telefone outro dia, ela me disse: 

"Fiquei com dó da carinha do meu filho quando nessa sexta-feira fui acordá-lo e ele me disse: - Mãe, amanhã é sábado, né?! Ainda bem que vou poder dormir até mais tarde. Pensei, mas não falei: é meu filho... mas é por tempo limitado, pois em algumas semanas começa a catequese e será sábado de manhã." 

Aparentemente só queria confirmar algumas informações básicas como dia de início dos encontros, hora que começa e termina, duração do processo, enfim. Pouco a pouco a conversa foi se tornando tensa. 

Depois de me descrever a cena acima, começou uma espécie de listagem de razões pelas quais estávamos, segundo ela, trabalhando errado. Para começar, "teria que ser de apenas 1 ano. Pra quê esse exagero? Dois anos?!" Em outra parte do diálogo (que já quase virava monólogo) se queixou que não abrimos grupos em outro dia da semana. "Logo sábado?! Único dia que as crianças tem pra dormir até mais tarde?! E ainda por cima durante dois anos?! Vocês não tem noção do sacrifício das crianças não é?!". A essa altura já não conseguia mais esclarecer os motivos logísticos disso. Aliás, não conseguia dizer mais nada. O máximo que alcancei, uma vez só, perguntar, foi: “- Mas a senhora não estava ciente desde a reunião de pais, há quase um mês, que seria assim?!". Pobre reunião de pais, tão importante e bem avaliada, para aquela mãe não passava de um balde a ser chutado. 

Esse atendimento deve ter durado uns vinte minutos. Nada do que ela falou me chamou muita atenção. Era claro que a insatisfação era em função de uma demanda particular e até meio comodista, não atendida. Uma frase, porém, mereceu esse texto que agora escrevo. A mãe, quem sabe na ânsia de suas argumentações misturadas com críticas à Igreja Católica (como o desgastado: “por essas e outras é que a Igreja Católica tá perdendo tantos fiéis”), soltou: 

“- Assim a catequese não vai ser uma coisa boa pra eles. A religião tem que ser prazerosa. A gente quer a felicidade dos filhos da gente, mas levantar cedo todo sábado pra ir pra catequese vai acabar sendo muito incômodo. Ele vai reclamar. Desestimula até a religiosidade das crianças. Não quero que ele desista no meio do caminho”. 

Pois é. As pessoas exigem uma experiência religiosa que não implique em esforços, nem as obrigue a sair de suas zonas de conforto. Que as permita "dormir até mais tarde", que abone os fiéis de desprendimentos, quaresmais ou não. Querem uma religião alheia às cruzes e sacrifícios do dia-a-dia (ou semanais, ao menos). Que se mantenha em constante discurso sentimentalóide de euforia, focada em aspectos subjetivos de auto-ajuda. Instigados, exigem que a Igreja atenda as demandas dos “novos tempos” como estacionamento, ar-condicionado, datashow, poltronas confortáveis, rapidez no atendimento da secretaria da paróquia, etc. Por outro lado, com semelhante intensidade, simplesmente ignoram alguns raros sacerdotes que ainda ousam instigar os fiéis a assumirem seus compromissos políticos, seu protagonismo social e renúncias consumistas, afinal, “política e economia não se misturam com o Reino de Deus”, dizem. 

Minha resposta para a mãe? 

“- Senhora, o seguimento de Cristo não se dá numa perspectiva de prazer, mas de fidelidade ao Evangelho. A felicidade dos filhos da gente não depende da hora que vão acordar aos sábados, mas da capacidade de superação dos obstáculos da vida, que nessa idade, pode começar com ter que se levantar pra ir à catequese. É quase certo que, ao longo do ano, algum dia ele vá acordar sem vontade de vir para a catequese, e vai ser nessa hora que, com ternura e firmeza materna a senhora vai colaborar com a felicidade dele, dando a última palavra: - Você vai, sim!” 

Penso que se o Evangelho não provocar incômodos, por mais bobos que pareçam, não será o mesmo anunciado por Cristo. 

Na raça e na paz Dele, 
J. Braga. 

p.s.: A referida mãe cancelou a inscrição do filho no dia anterior ao início dos encontros da Catequese. 

Comentários

  1. Thays Rabelo da Costa5/08/2011 9:36 AM

    Adorei o texto. De certo modo, compreendo as lamentações da mãe, afinal, eu, particularmente, tinha muita preguiça de ir à catequese dia de sábado assistir as aulas da Tia Francisca e Tia Lúcia, mas ao chegar ao colégio sentia uma alegria em desenvolver as atividades propostar e em estar reunida com alguns amigos. A felicidade e a paz obtida pelo contato com Deus é superior ao prazer de um bom sono.

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  2. Eu me impressiono com a forma que estamos acomodados, as pessoas não fazem nada, e acham que estão fazendo muito, pois bem sou jovem tenho 17 anos, sou terceiro ano ( o ano considerados por todos o mais puxado, pelo menos na vertente escola), tenho provas e aulas aos sábados, e não deixo nem por um momento de tentar passar a palavra e evangelizar, o católico tem muita dificuldade em conseguir manter as coisas de Deus acima das coisas do mundo, a maioria inverte, e muitos não se dão conta da besteira que estão fazendo. Cada dia é mais difícil evangelizar os jovens, cada vez é mais difícil tornar a palavra interessante e chamativa pra eles, mas mesmo assim continuamos tentando e conseguimos, mesmo a igreja sendo uma instituição milenar, nós que passamos a palavra tentamos "acomodar" a igreja para o formato dos jovens, e nos sim fazemos muitos sacrifícios, abrimos mãos de certas coisas dedicamos a nossa vida a essa missão, somos tidos como estranhos, fora da nossa época, e isto porque simplesmente adoramos a Deus, então não acredito que acordar cedo por dois anos pra ir a catequese seja algo tão difícil ou um sacrifício, não se está fazendo nada mais do que a obrigação. Sacrifício é ter que sair daqui da minha cidade 6:30 da manhã para fazer um encontro em outra cidade voltar da outra cidade 22h do domingo chegar aqui de novo as 1:30 do domingo e dormir porque segunda você tem aula as 5:30 e tudo isso com um sorriso no rosto fazendo sem sentir nada e não considerando isso um sacrifício e sim uma honra que é poder passar a palavra aos outros

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  3. Parabéns Braga pelo excelente texto e reflexão. A religião light está tomando conta do mundo atual e mais ainda a religião do self-service que é aquela que as pessoas experimentam o que acham de melhor em quase todas as Igrejas. Acredito muito que a Igreja católica vai crescer quando tivermos a coragem de mostrar ás pessoas o seu verdadeiro sentido, se ser fiel ao evangelho, e não de ser maquiagem nas vidas das pessoas que querem continuar com essa "aparência social e religiosa". Que bom que essa mãe tomou a decisão de cancelar a isncrição do filho, pois certamente o "coitadinho" não ia conseguir acordar cedo no sábado. Rssssssssssss.

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