Quer ser mais um na multidão? - Rogério Oliveira

Toda a semana, religiosamente por dez vezes eu faço a mesma experiência. De segunda a sexta-feira, duas vezes por dia. Normalmente por volta das oito da manhã e das cinco e meia da tarde. Não posso considerar uma experiência científica porque os resultados não se repetem. Normalmente inicio imaginando algumas possibilidades, mas vira e mexe sou surpreendido. Confesso não é algo muito agradável de ser feito na maioria das vezes, mas geralmente é algo inspirador. Tanto isto é verdade que esta experiência me motivou a iniciar o texto de hoje.

Todos os dias de segunda a sexta feira eu utilizo o transporte público de São Paulo para ir trabalhar e para voltar para casa. Eu e milhares de pessoas. Todos estes dias eu faço a experiência de ser um na multidão. E sei que encontrarei pessoas que nunca mais verei na vida. Somos uma multidão de iguais, mesmo sendo muito diferentes.


Você já fez uma experiência semelhante? Já andou numa rua cheia de gente desconhecida, apressada? Já pegou ônibus ou avião em véspera de feriado? E, caso tenha feito algo semelhante a isto, já reparou que pouca gente repara nos outros? Eu reparo.

E tem algo fascinante nisto tudo. A maioria das pessoas não quer chamar a atenção, mas gosta de (ou opta por) se apresentar bem. E se apresentar bem é seguir o senso comum daquilo que é socialmente bem aceito. Mas o fascinante ao qual me referi não é o senso comum, mas a ruptura. Não há quem não repare em um penteado, um vestido, um piercing, uma camiseta ou qualquer peça ou postura que pareça fora do padrão. Não digo que estas pessoas (maioria jovens) se utilizem destes recursos para chocar. Alguns até se chocam. Mas creio que eles queiram marcar sua presença numa sociedade de “iguais”.

E, por falar em pastoral, o que uma coisa tem a ver com a outra? Ah sim. Dá para começar uma conversa boa com isto. E a continuidade desta conversa vai depender da reação que você vai ter com este texto.
Vamos começar pela motivação que me fez escrever este texto. É até uma lógica bem simples (ou simplória, depende de você). A pessoa se torna mais uma na multidão porque segue a norma, o padrão aceito e/ou o comum. Quando se foge disto, quem o faz é notado. Alguns gostam, muitos criticam, mas a pessoa alcança visibilidade e um certo reconhecimento.

Por que a PJ não tem seus trabalhos (que são muitos) reconhecidos pela massa da Igreja e da sociedade? Eu penso que um dos fatores é a falta de visibilidade. Somos pouco notados. Em alguns lugares somos abafados. Em outros tantos lugares acabamos falando para nós mesmos, quando não falamos e nem a gente mesmo se entende.

O problema é de comunicação? Não. O problema é de estratégia. Comunicar, a gente até que comunica bem. Aparecer, em muitos lugares a gente aparece. Chocar, tem quem seja especialista nisto. Mas a pergunta é “Comunicar, aparecer ou chocar visando qual passo seguinte?”.

Há tantos blogs, sites, listas, twitters, páginas pessoais e pastorais em redes sociais que fazem um bem danado para a PJ, mas que são mal divulgados, pouco acessados, com poucos seguidores, assinantes ou leitores. Trabalhamos em rede ou separados? Colaboramos uns com os outros ou disputamos o mesmo espaço virtual?

Estamos em muitos conselhos municipais de juventude por este país. Marcamos presença forte no Conselho Nacional Juventude. Temos uma bonita campanha contra a violência e o extermínio da juventude, mas poucas de nossas comunidades e grupos conhecem estas iniciativas. Por quê?

Temos uma metodologia rica, eficaz. Temos multidões de jovens extremamente criativos nos grupos. Normalmente lidamos bem com nosso corpo e discutimos todas as dimensões do ser humano. Temos uma espiritualidade libertadora. Muitas vezes isto choca alguns. Como fazemos do choque, uma mola para uma discussão sadia, franca, aberta e sem ressentimentos?

Sim, a proposta hoje não era dar respostas, mas abrir canal para uma boa conversa. A PJ precisa aparecer mais. Temos potencial para isto. Mas e depois que conseguirmos audiência, qual nossa estratégia para avançarmos? Como transformar mais este desafio em oportunidade?
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Na raça e na paz Dele,
J. Braga.

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