Discriminação não se admite, preconceito, com humor, se desconstrói

Lembram do que disse o deputado Bolsonaro?! Aquilo é a mais cristalina expressão de discriminação. O conceito que ele carrega de que negros e homossexuais são seres "promíscuos" e "menores" traduz uma postura diante da vida. Não é pré-conceito, é conceito formado, entende?! No Brasil, todos tem o direito de pensar, achar e até falar o que bem entenderem sobre tudo. O que não se admite é que, em função de conceitos como os expressados pelo deputado, pessoas sejam alijadas de determinados processos sociais a que, numa democracia, devem ter igual acesso e oportunidade. Ponto. 

Na hora em que qualquer cidadão expressa uma opinião que carregue uma mensagem discriminatória (e ele tem direito de fazê-lo), expõe-se. Assim sendo, qualquer outro cidadão que se sinta ofendido pela opinião expressa pode acioná-lo judicialmente (direito do que se sente ofendido, consequência da liberdade do primeiro).

Abaixo trago como ilustração um caso real para nos ajudar a entender as diferenças entre discriminação e preconceito. A propósito, o que tento expressar não tem nada a ver com a ideia de "politicamente correto/incorreto".
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Uma fã especial do CQC




A Sylvia é figurinha carimbada no CQC desde o início

do programa na BAND em 2008. Ela mantém um excelente blog sobre o programa- o CQC in Love-, onde com grande habilidade e generosidade publica informações sempre atualizadíssimas sobre a pauta da semana e até a rotina profissional dos integrantes. Como se não bastasse, Sylvia ainda é presença constante ao vivo na platéia, sempre na companhia alegre e serena da sua mamãe, principalmente em datas emblemáticas como a edição de número 100 (foto acima).

No último domingo eu mencionei o nome dela numa entrevista à “Folha de S. Paulo” sobre os limites do humor e o politicamente correto (vai abaixo entrevista concedida ao jornalista Roberto Kaz). E a Sylvia voltou a nos surpreender com um e-mail para lá de sincero e tocante, que publico aqui na sequência.

Obrigado pelo carinho, Sylvia, você é uma lição de como ser especial de verdade.
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De: Sylvia Bonte Pires
Para: Marcelo Tas

Oi Tas,

Estou aqui para lhe agradecer a lembrança e o carinho que você teve comigo mais uma vez. Como você disse na entrevista, eu não me importo quando fazem piada com deficiente, pois acho que as piadas que vocês fazem não são ofensivas e muito menos preconceituosas.

Eu confesso que quando você chama o Marco Luque de ‘especial’ e ele repete ‘ahm, eu sou especial!’, me sinto tão orgulhosa, de certa forma, de ver que a barreira do pré-conceito está, aos poucos, ‘quebradas’ e com o humor ou/e com a piada em si ajuda a ‘quebrar’ essa barreira imposta pela sociedade, infelizmente. A mídia como todo, tem que abordar mais esse assunto, com isso conseguimos superar esse pré-conceito medíocre que a sociedade tem.

Bom, resumindo, obrigada por tudo!

Beijos,

SYLVIA.
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São Paulo, domingo, 01 de maio de 2011


“O humorista é um agente de saúde”, diz Tas

DE SÃO PAULO

O humorista Marcelo Tas, apresentador do programa “CQC”, da Band, diz que a comédia vive de apontar a fragilidade humana. “É assim, de Chaplin a Tiririca”, ensina. Ele diz que não faria a piada com autistas, mas reclama do patrulhamento: “O humorista é um agente de saúde, no sentido de nos lembrar que somos precários, imperfeitos. Mas as pessoas querem viver em um mundo sem imperfeição”.

Folha - Tudo pode ser tratado com humor?
Marcelo Tas - Tudo. No “CQC”, costumamos dizer que o Marco Luque é especial. Quando isso acontece, ele fala: “Eu sou especial”, como se tivesse um retardo mental. Recebemos e-mails de pais reclamando de preconceito, mas não é a única possibilidade de resposta.

Qual é a outra?
A outra é a da Sylvia Pires, uma fã que costuma comparecer à gravação do programa. Ela quase cai da cadeira de rodas, de tanto rir, quando o Luque faz essa piada. Algumas pessoas se sentem incluídas ao serem tratadas assim.

Homossexualidade também pode render piadas?
Pode. O Rafael Cortez sempre brinca com isso. E semanas atrás, dei um depoimento sobre o orgulho que tenho da minha filha homossexual. Sabe o que aconteceu? Recebi e-mails de movimentos gays me acusando de promoção às custas dela. Para mim, não há diferença entre um nazista e um homossexual que me ataca dessa forma. Ambos acham que a verdade sobre o assunto pertence apenas a eles.

A que você atribui o crescimento dessa fiscalização?
Às pessoas que querem se blindar da imperfeição, como quem lida com a injustiça social blindando o próprio carro. Isso é viver dentro de uma camisinha que te protege da realidade. E o problema é que, quando a realidade se impõe, as pessoas não sabem lidar com ela.
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Na raça e na paz Dele,
J. Braga.

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