Há lições que a gente nunca esquece

Nunca ouvi tanto silêncio no colégio. A oração pelo som que padre Marcos conduziu na manhã do dia 14 de abril de 2011 foi, talvez, a mais impactante da vida dessa comunidade educativa. Foram vinte minutos de relógio, quinze a mais do normal. Mas quem se deu conta? Como faço de vez em quando, na hora da oração pelo som, procurei circular por corredores, pátios, sala dos professores para sentir como vivenciamos essa experiência orante nos diversos espaços do Marista Patamares. Busco observar a postura de professores, auxiliares de disciplina, coordenadores, pais e estudantes. Para mim, funciona como um indicador sobre nossa espiritualidade. Nesse dia, foi lindo. 

Pouco consegui guardar da reflexão que fez nosso capelão, confesso. Mas foi por um bom motivo: enquanto caminhava, não conseguia deixar de admirar a grandiosa reverência que se fazia à vida de L. S., 5 anos, estudante do 2º Ano da Educação Infantil, de pró Norma. Ele havia falecido no dia anterior em decorrência de um acidente de trânsito. No pátio, funcionários pararam de varrer, de falar pelo rádio, e até de andar. Nos corredores, auxiliares de disciplina sentados ou em pé, mas em postura de escuta e oração. Pais, da mesma maneira. Mas o mais tocante eram as salas de aula. Olhando pelas janelas, via as professoras silenciosas diante de crianças decididamente compenetradas, em oração, algumas de mãos postas, outras de olhos fechados, ou simplesmente de cabeça baixa. De nossos quase 3 mil alunos, talvez nem cem tenham conhecido pessoalmente o homenageado. O que tornou a oração ainda mais emblemática. 

Lembro-lhes, foram vinte minutos assim! Incrível. 

Não acho que haja sentido em que vidas desapareçam tão prematuramente. Mas se é possível detectarmos algum, tem a ver com a reação das pessoas, das crianças, dos estudantes, dos pais, dos educadores. O silêncio na escola foi simbólico. O fato moveu a todos e nos fez experimentar que tínhamos um só coração. Todos se deram conta da fragilidade da vida e do quanto ela precisa ser bem vivida e cuidada, o que, por si, induz ao cultivo da reflexão. E uma escola que não pára para refletir, não serve para ensinar. 

Mais que suscitar uma comoção passageira e prender um pouco da nossa atenção, ao que parece, por causa de L. S. nossa sensibilidade foi finalmente alcançada e nossa postura, de ativismo quase automático, deu lugar a uma auspiciosa quietude. Afinal de contas, criança é coisa sagrada! E é pela fé que estamos seguros de que o Sagrado, em pessoa, o tem agora. 

O colégio parou. Mas dessa vez não consigo perceber isso como algo ruim. Foi bonito e marcante. 

Essa é daquelas lições que a gente nunca esquece. 

Na raça e na paz Dele,
J. Braga.

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