Sobre bancos, políticos e ladrões - André Camargo

Os bancos, ladrões e assaltantes são parceiros comerciais. Sócios no mesmo negócio. 

Experimente - se ainda não o fez - esquecer de pagar o cartão de crédito, por exemplo. Aconteceu comigo. Quando recebo a fatura, em destaque, um valor razoável para a cobrança de multa e juros. Numa região mais obscura da fatura, entretanto, disfarçado entre outros números, um valor que não podia ser. 

Telefonei: se quer isso, digite aquilo. Se quer aquilo, digite isso. Confirme data de nascimento, data de validade do cartão, tipo sanguíneo da irmã do primo da sua avó. Pode repetir, senhor?

"Recebi a fatura e estou em dúvida quanto ao valor cobrado pelo encargo - deve ter algum erro!" e aguardo, já sabendo, a voz anasalada típica do universo do telemarketing, forçosamente educada e com aquele tom que parece chamar você de jegue toda vez que não acredita no que ela está falando. 

Indagada, despeja uma lista de taxas, encargos de financiamento, juros de mora, multa por atraso e ocatso que incidem sobre o total da fatura, como se fosse a coisa mais normal do mundo. 

"Mas qual a porcentagem cobrada por dia para chegar a esse valor?"
"Não temos acesso a essa informação, senhor".
"Como eu faço para saber quanto está sendo cobrado?"
"Só um minuto que vou estar verificando para o senhor".
tu tu tu: a linha caiu!! 
Na segunda ligação, ultrapassada a maratona de senhas e confirmações, descubro finalmente que estou pagando mais de 15% sobre o montante total por atrasar o pagamento em vinte dias!! Caraca, se eu emprestasse meu dinheiro para eles pelos mesmo vinte dias, por meio de um CDB ou coisa que o valha, receberia 0,7%, quando muito!... E é o meu dinheiro que eles usam para viabilizar os empréstimos atrozes deles. A mesma grana, pelo mesmo tempo, 0,7%, no máximo, para mim; 15,49% para eles!!

"Quero cancelar o cartão."
"Qual o motivo, senhor?"
Dá vontade de falar aquilo, mas não falo. Rendo-me ao sistema: "Cobrança de encargos extorsivos e falta de transparência."

Aí, emputecido, paro pra pensar. Como é possível esse spread bancário orsonwelliano? Pode, isso?

Os caras cobram taxa de manutenção da conta, taxa de administração do investimento, anuidade do cartão de crédito, bolsa de serviços, e enfiam a mão no bolso dos comerciantes para pagar as compras efetuadas com cartão no estabelecimento deles! Regulam no reajuste dos funcionários e quebram recordes de lucratividade ano a ano. E tudo é muito normal. 

Aí eu penso: "não quero mais nada disso!". "Afinal de contas, por que não cancelo todos os cartões, encerro as contas e mando tudo à laputamadre?

Então eu me recordo: "Não posso!". Não dá para ficar andando por aí com dinheiro vivo. Também não dá mais pra guardar no colchão. (Sabe que, no ano passado, entraram aqui em casa e furtaram um monte de coisa?!? E olha que eu moro em um apartamento, no 14º andar de um prédio!...).

Os ladrões e assaltantes não permitem que eu mesmo guarde e administre meu dinheiro. Só posso transferir de um para outro banco ou agência, o que em geral dá na mesma, mas não é seguro andar carregado por aí. 

Os ladrões e assaltantes são o que me obriga a depositar minha grana em bancos. Não fossem eles e jamais faria negócio com os porcos capitalistas malditos comedores de criancinhas, assim como me recusaria a fazer negócio com ladrões e assaltantes. 

São todos, afinal, parte do mesmo bando. 

André Camargo Costa
- um indignado

P.S.: Os políticos (do título) estão aí no meio, sim. Você não viu?
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Na raça e na paz Dele,
J. Braga.

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