O que dizer de meus amigos?

Um amigo fiel é poderosa proteção: quem o encontrou, encontrou um tesouro. 
Ao amigo fiel não há nada que se compare, é um bem inestimável. 
Um amigo fiel é um bálsamo de vida; os que temem o Senhor vão encontrá-lo. 
Quem teme o Senhor, conduz bem a sua amizade:
como ele é, tal será o seu amigo.
Eclo 6, 14-17 

Rir é correr o risco de parecer um tolo. Corri esse risco durante anos, convivendo diariamente com meus amigos de colégio. Três, em especial: Gustavo, João Nelson e Stéfano. Viviam fazendo brincadeiras, falando besteira e me fazendo rir. Muitas vezes gargalhar. Um, pelas tiradas rápidas engraçadas, outro, só pelo jeitão de ser (além da fala meio embolada), e o terceiro, pelo saudável espírito de criança. No quarteto, eu era a platéia. E como me diverti com eles. Fui um privilegiado. Sempre soube disso.

Depois do colégio, cada um buscou seu rumo. A presença física foi naturalmente se escasseando e os contatos, cada vez mais raros, só eram por telefone ou internet (ainda bem que já tinha web!). Cheguei a morar longe de casa por um bom período, no exterior, inclusive, por alguns anos. Enquanto eu estudava para ser o “padre” (acho que sempre serei na cabeça deles, apesar de já ser pai de família), os três se transformaram em excelentes profissionais. Referências de suas respectivas áreas.

Durante todos esses anos (mais de dez!) nunca chegamos a sumir uns dos outros completamente. Algumas raras vezes ainda conseguimos nos encontrar por ocasião do casamento de um, pela formatura do outro, ou pelo aniversário ou por uma simples pelada futebolística. Poucos, mas substanciais momentos. Quando a gente se encontrava – tirando a má forma física – o tempo não parecia ter passado. Amizade, confiança, cumplicidade, e palhaçadas seguiam como sempre. Algumas das mesmas bobagens como, por exemplo, falarem de minhas belas pernas torneadas (por eles codinominadas: “cambotas”). Uma injustiça. O tempo passava, mas seguíamos representando o que havia de mais genuíno em termos de amizade uns para os outros. 

Pelo menos na minha cabeça.

Um dia fui confrontado: “- Quem garante que eles te consideram tanto quanto você a eles?”. Não era uma pergunta capciosa, semeadora de discórdia. Era sincera. Eu era mesmo mais atencioso. Todos os anos me preocupava em ligar na data de aniversário, mandar email ou, no mínimo postar um scrap no orkut. Às vezes atrasava, mas o que são alguns dias diante da força do carinho em manifestar sua alegria por ter “aquele” amigo? Nas rodas de conversa, também era notório meu orgulho pelas lembranças, com detalhes, das diversas traquinagens que fizemos. Fosse pela flatulência de um ou pelo gol imperdível (mas perdido) do outro. Pode parecer mera superficialidade, só que entre adolescentes não é o conteúdo, mas as amizades que realmente se aprofundam. Estas são as que carregam em si a autêntica potência de serem “para a vida inteira”. E eram. Pelo menos na minha cabeça.

Comecei a ficar incomodado. Aquela dúvida começou, sorrateiramente, a se intrometer nos meus pensamentos: “– Será que essa amizade toda não foi mesmo coisa só da minha cabeça?!”. Feito cupim, foi tomando conta: “– Eles sabem do meu aniversário. Por que não me ligam?!”. No fundo não me achava tão dedicado assim, mas era verdade que eu tinha mais iniciativas. “– Eu sei que eles são ocupados, mas eu também não sou?! Amizade não é reciprocidade?!” Pois é. Troço meio sinistro mesmo. Mas graças a Deus, aprendi a não a alimentar essas coisas. No tempo certo, costumo me perceber e resolver esses imbróglios interiores. Antes que aquilo se transformasse em algum tipo de mágoa que me empobrecesse, decidi-me com firmeza por manifestar, diante da Vida, a rica gratidão em tê-los na minha. Eles nem sabem de nada disso, mas apostei neles. Na verdade, na gente.

Sêneca, distinto filósofo e orador romano, alguma vez disse que há pessoas que não querem correr nenhum risco. Acabam não fazendo nada, não tendo nada e não sendo nada. Elas podem até evitar alguns sofrimentos e desilusões, mas, no fundo, não mudam, não crescem, não amam e não vivem. “Somente aquele que se arrisca é livre!”

Passei anos me arriscando em parecer tolo pelas risadas que eles me provocavam. Por que não continuaria alimentando o que eles, de coração, sempre foram para mim? 

E sigo decididamente, com uma incrível sensação de liberdade, fiel aos meus amigos.

Na raça e na paz Dele,
J. Braga.

Comentários

  1. stefano moreira3/04/2011 9:02 AM

    cambotão!!!! o que todos passamos foi unico e esta marcado no coração! o "quinteto" (por que vc sabe q um era soh paixão para o gustavo) nunca esqueceu um do outro soh ficou latente o sentimento q sempre vem a tona quando necesario! digo q tenho 3 irmãos por pai e mae e mais 3 q considero os mais importantes, pois esses eu escolhi para que fossem meus irmaos!

    ResponderExcluir
  2. Existem coisas que, além de vividas, é maravilhoso que sejam ditas. Finalmente, estamos dizendo uns aos outros...(:

    ResponderExcluir
  3. Paulo Roberto3/09/2011 6:52 PM

    O melhor amigo é aquele que nos faz melhores do que somos. Que nos ajuda a enfrentar as situações difíceis e não desperdiçar as oportunidades da vida. Obrigado meu amigo, tudo de bom pra você e sua familia.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas