Manifesto de teólogos alemães pela mudança na Igreja

por Ir. Afonso Murad

No início de fevereiro, um grupo de mais de 140 teólogos(as) alemães, suíços e austríacos lançou a público um documento, manifestando a necessidade de mudanças na Igreja católica. Apresento abaixo o núcleo deste texto, para sua reflexão e posicionamento.

(..) Como professores e professoras de teologia sentimos a responsabilidade de contribuir para um autêntico novo início: 2011 deve tornar-se um ano de virada e reconversão para a Igreja. Os desafios concretos com que a Igreja deve confrontar-se não são, de fato, novos. E, no entanto, não são visíveis as reformas que considerem o futuro. É necessário levar em frente um diálogo aberto nos seguintes âmbitos:

1.- Estruturas de participação: em todos os campos da vida eclesial a participação dos fiéis é a pedra de toque para a credibilidade do anúncio de liberdade do Evangelho. Conforme o antigo princípio jurídico: “O que diz respeito a todos, deve ser decidido por todos” são indispensáveis mais estruturas sinodais em todos os níveis da Igreja. Os fiéis devem ser tornados participantes na escolha de importantes “representantes oficiais” (bispos, párocos). O que pode ser decidido localmente deve ali ser decidido, e as decisões devem ser transparentes. 

2.- Comunidades: as comunidades cristãs devem ser lugares nos quais as pessoas compartilhem bens espirituais e materiais. Mas, atualmente a vida comunitária está em declínio. Sob a pressão da falta de padres são construídas unidades administrativas sempre maiores – “paróquias extra-amplas” -, nas quais quase não podem ser vivenciadas a vizinhança e a pertença. É posto fim a identidades históricas e a redes sociais particularmente significativas. Os padres são “queimados” [pelo excesso de tarefas] e acabam se exaurindo. Os fiéis permanecem distantes se não lhes for dada a confiança de assumirem corresponsabilidade e de sentirem-se partícipes em estruturas democráticas na direção de suas comunidades. O ministério eclesial deve servir à vida de suas comunidades – e não o contrário. A Igreja também necessita de padres casados e de mulheres em serviço eclesial. 
3.- Cultura do direito: o reconhecimento de dignidade e liberdade de todo ser humano mostra-se precisamente quando os conflitos são enfrentados de modo equânime e com respeito recíproco. O direito eclesial só merece este nome se os fiéis puderem fazer valer efetivamente os seus direitos. A defesa do direito e a cultura do direito na Igreja devem ser urgentemente melhoradas; e um primeiro passo nesta direção é a criação de uma jurisdição administrativa eclesial. 

4.- Liberdade de consciência: Respeito pela consciência individual significa confiar na capacidade de decisão e de responsabilidade das pessoas. Favorecer e desenvolver esta capacidade é também tarefa da Igreja – mas, não deve transformar-se em personalismo. Reconhecer seriamente a liberdade de consciência é algo que tem a ver com o âmbito das decisões pessoais sobre a vida e o das formas de vida individual. A alta consideração da Igreja pelo matrimônio e pela forma de vida sem matrimônio está fora de discussão. Mas, ela não impõe que se excluam as pessoas que vivem responsavelmente o amor, a fidelidade e o cuidado recíproco numa união homossexual, ou como divorciados redesposados. 

5.- Reconciliação: a solidariedade com os pecadores pressupõe que se leve a sério o pecado no próprio interior. Um pretensioso rigorismo moral não é adequado à Igreja. A Igreja não pode pregar reconciliação com Deus sem procurar ela própria no seu agir os pressupostos para a reconciliação com aqueles em relação aos quais se tornou culpada por violência, por violação do direito, pela inversão do anúncio bíblico de liberdade, numa moral rigorosa privada de misericórdia. 

6.- Celebração: a liturgia viva da participação ativa de todos os fiéis. Nela devem encontrar espaço as experiências e as formas atuais de expressão. A celebração não deve enrijecer-se num tradicionalismo. A multiplicidade cultural enriquece a vida litúrgica e não pode conciliar-se com as tendências por uma unificação centralista. Somente quando a celebração da fé acolher situações concretas de vida o anúncio da Igreja atingirá as pessoas.

O processo de diálogo eclesial iniciado só pode conduzir à libertação e à mudança se todas as partes envolvidas estiveram prontas para enfrentar os problemas impulsores. Trata-se de procurar, numa livre e equânime mudança de argumentações, as soluções que conduzam a Igreja para fora de sua paralisante auto-referencialidade. 

O medo jamais foi bom conselheiro em tempos de crise. Cristãos e cristãs, sejamos exortados pelo Evangelho a olhar com coragem para o futuro e – movidos pela palavra de Jesus – a caminhar como Pedro sobre as águas: “Por que tendes medo? É tão pequena a vossa fé?”
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Na raça e na paz Dele,
J. Braga.

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