Quem manda aqui sou eu!

O rei dos deuses (de uma das muitas mitologias humanas) descobriu num certo dia, que os outros deuses-reis tinham seres humanos para venerá-los. Ele não sabia ao certo o que eram seres humanos, mas queria ao menos um para ele também.

Chamou o ferreiro celeste e pediu-lhe que usando sua habilidade, construísse um ser humano. O ferreiro ficou com vergonha de assumir sua ignorância sobre a confecção de tal criatura, sem saber que o rei dos deuses também não tinha a menor idéia de como fazê-lo.

Em vez de responder imediatamente, pediu um tempo para pensar, e por uma semana meditou como escapar desta tarefa difícil sem atrair sobre ele, ou seus familiares, a fúria do rei dos deuses. Num momento de inspiração, encontrou a resposta.

De volta a sala do trono, ele disse que seria capaz de fazer um ser humano a partir de um modelo de aço. Bastaria para isto “humanizá-lo”, aquecendo no fogo e resfriando-o na água.
Nota: este processo é chamado pela metalurgia moderna de têmpera e só serve para deixar duras as facas de aço. De volta a história;

Mas não servia qualquer fogo e qualquer água. O fogo deveria vir do carvão feito a partir dos cabelos dos deuses e a água deveria vir dos olhos dos deuses. O problema maior era a quantidade: cem cargas de carvão e cem vasos de lágrimas.

Para não ficar desmoralizado diante do ferreiro, o deus-rei ordenou que a cabeça de todos os deuses fossem raspadas para fazer carvão e que os mesmos deuses começassem a chorar imediatamente para encher os vasos.

Mas o ferreiro havia sido ardiloso e todos os cabelos não fizeram mais que uma carga de carvão e todos os olhos não choraram mais que um vaso de lágrimas.

Sem alternativa, o rei desfez seu pedido, pois seria incapaz de fornecer o material requisitado pelo ferreiro. Mal sabia ele que o verdadeiro motivo era a incapacidade do artífice em fabricar um ser humano.

Lembrei-me desta história quando em meu último artigo recebi um comentário que citava a frase “só sabe mandar quem sabe fazer".

O deus-rei deste mito é um exemplo típico de alguém que mandou fazer algo que ele não sabia exatamente como deveria ser feito.

Concordo que um gestor ou gerente não precisa saber todos os detalhes técnicos de como uma tarefa deve ser realizada, ele tem subordinados com conhecimentos específicos para resolver estes detalhes.

Saber fazer para saber mandar pode ter dois aspectos complementares:

Ter o conhecimento conceitual da realização da tarefa para não correr o risco de que seus subordinados digam que uma tarefa é impossível de ser realizada, ou então consumam recursos desnecessariamente.

Ter o conhecimento de gestão, para orientar seus colaboradores, delegando-lhes tarefas e munindo com autonomia em menor ou maior grau, cada um deles.

A combinação destes dois conhecimentos fará com que o gestor que os possua seja um verdadeiro líder, combinando as competências particulares de cada um para obter o melhor resultado.

Em contrapartida, um mau líder / gestor, como é o caso do deus-rei do nosso mito, imporá sua vontade mesmo que sem razão, simplesmente para satisfazer seu ego. É muito comum nestes casos ouvir deles a frase título do artigo: “Quem manda aqui sou eu!”, como único argumento para o convencimento dos subordinados.

Típicos dos líderes, que se consideram deuses-rei.

Alfredo Roberto Marins Junior
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Na raça e na paz Dele,
J. Braga.

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