Porque não acredito em signos
Durante boa parte da minha infância e adolescência carreguei uma grande convicção de que meu signo realmente influenciava na minha vida, no meu comportamento, no meu caráter e, óbvio, na minha "sorte". Cheguei a uma fase em que procurava um jornal impresso obstinadamente, todo dia, para ler meu horóscopo. Quando não conseguia, procurava até o de dias anteriores só para, supostamente, tentar entender o que me havia acontecido naquele período. Se fosse ano de Copa, ficava ansioso pelas previsões dos adivinhadores do Fantástico. Queria saber logo se o Brasil ia ou não traçar mais uma. Engraçado é que botava tanta fé nas previsões, mas não me lembro de conseguir ter raiva dos charlatães, quando suas previsões não davam certo. Vai entender.
Minha mãe nunca deu importância a essas coisas. Nunca vi. Acho que jamais a ouvi pronunciar essas duas palavras (signo e horóscopo). Por outro lado, meu pai, por causa disso, teve uma grande raiva. Foi uma conta de telefone. Naquela época começavam aqueles "disk-qualquer-coisa". Um deles era um disk-horóscopo qualquer. Pois bem. Supersticioso que era, meu pai ligou pra saber do signo dele. E a conta veio matando. Acho que a partir desse dia foi que ele parou de acreditar em horóscopo. É, de fato, a parte mais sensível do corpo do homem.
Quando já estava pouquinho mais moço, tive contato com a ideia agostiniana do livre-arbítrio. Foi parte do meu mergulho na experiência religiosa. Através dela, pude tomar contato com textos bíblicos que, por questões religiosas e racionais, censuravam aqueles que se punham a acreditar nos astros e seus profetas: os astrólogos. Só que emergiu em mim um conflito importante. Apesar de não mais estar naquela fase obstinada, ainda cria, de certa forma, nas influências do cosmos. Sem explicação, eu que nunca mais me havia preocupado em olhar meu signo, tive que começar a me "segurar" pra não ler. Realmente se ativou em mim uma curiosidade intensa, quase uma fissura, para ler meu horóscopo, fosse do dia ou de qualquer outra data, enfim. Parecia uma "tentação". Queria ler. Mas não me permitia. Ninguém me policiava. Só eu. E Deus. Toda vez que pegava num jornal tinha o "reflexo" de ir ao Caderno de TV (que tinha o horóscopo), mas resistia e, no meio do caminho, ia pra outra página qualquer. Pouco a pouco a tal fissura foi passando, até sumir.
Hoje, continuo com convicções religiosas que me desinteressam procurar por essa "literatura". Mas muito mais a compreensão filosófica das coisas é que defraudam, ao meu ver, a pertinência em procurá-la. Percebo que muito mais danoso que um "castigo divino", pautar minha vida em função de um horóscopo simplesmente potencializa o medo se ocorre alguma "previsão" pessimista e causa frustração se algo bom não se confirma. No fundo, o zodíaco quita minha liberdade, meu protagonismo, minhas escolhas, meu sentido de existir. Muito mais que qualquer azar, o grande dano possível na vida de quem o crê é "descomprometer" a um projeto de vida. Tende-se a solapar as razões pelas quais se vive e a maquiar os sentidos últimos da existência. O raciocínio é simples. Se não posso "lutar" contra os astros e os desígnios cósmicos, adianta planejar? Adianta me sacrificar por algo? Adianta me importar? Adianta amar? Já está tudo escrito, ora.
“Adianta” não é uma boa palavra para iniciar uma pergunta, pois parece supor o desprendimento de uma energia em vão. "Para quê?". Essa, sim, é uma pergunta fundamental para fazer emergir os sentidos de todas as coisas que rodeiam nossa vida. Compõe a essência da teleologia (= estudo dos fins, finalidades) e deve fazer parte do cotidiano de quem se pretende cada vez mais renovado e inovador, situado e percebido como referência, limitado, mas aberto ao infinito. Não sou levado pela correnteza. O timão do meu barco quem conduz sou eu. Nada está escrito. Nada é cristalizado. Minhas decisões é que me forjam. Pouco mais aqui, pouco menos ali. Mas eu (com Deus). Não os astros.
"Adianta viver?" ou "Para que viver?". Há uma sutil, mas essencial diferença.
"Adianta viver?" ou "Para que viver?". Há uma sutil, mas essencial diferença.
Pensando assim, graças a Deus o Brasil não ganha todas as Copas.
Na raça e na paz Dele,
J. Braga.
E que sempre pensei que voce nao tinha nenhuma curiosidade acerca de signos...rsrs....
ResponderExcluirAinda bem que realizo leituras superficiais e nao as considero verdades em minha vida...