Mude sua perspectiva, mude o mundo! (pelo menos o seu)
Há vários anos venho provocando reflexões sobre "perspectiva" junto aos meus alunos. Geralmente dou o exemplo da janelinha da porta da sala de aula e dos diferentes ângulos com os quais enxergamos o que ela deixa transparecer. Há uma realidade enorme por trás da janelinha, um mundo, que eu, em pé, na frente da sala, enxergo de um jeito. E uma mesma realidade enorme por trás da janelinha da porta, mas vista do ângulo dos meninos e meninas sentados em suas carteiras, de outro jeito. Outro ângulo. Outra perspectiva.
Educar é um troço complexo, na mais coloquial e na mais técnica acepção do termo. Realmente, não dá pra falar de educação sem se sentir a necessidade de ampliar e ampliar a conversa. Citemos apenas alguns dos aspectos envolvidos: avaliação, interdisciplinaridade, conteúdos cognitivos & atitudinais, enfoque na vida, preparação para o vestibular, ideologias, bullying, professor como agente educacional coletivo, projeto político pedagógico pastoral, arhf...chega cansa. Entre outros.
Gênios como Rubem Alves e Paulo Freire já conseguiram falar de Educação através analogias riquíssimas. Uma que agora me lembro é a dos brinquedos e ferramentas, do Rubem Alves. Ele se refere ao que aprendemos e suas "utilidades" na vida. Algumas coisas aprendemos para usarmos como ferramenta de melhora na qualidade de nossas vidas, mas o divertido mesmo são os brinquedos que nos dão. Cada um de nós considerará aquilo que nos "diverte" e aquilo que nos "serve" de forma diferente. Eu, por exemplo, adoro conhecer mais da História. Adoro aqueles documentários da History Chanel sobre as grandes guerras. Eu amo conhecer detalhes, milindres das batalhas travadas, etc. Para outras pessoas (como minha mulher...hehe), porém, pode ser um saco. Desinteressante mesmo.
Por outro lado, ter o cuidado de, todo dia, procurar enxergar coisas, pessoas, fatos, realidades, processos de maneiras diferentes ajuda a manter boa "oxigenação" das ideias. Perspectiva, essa é a chave! À medida que há abertura para olhar o mundo de maneira diferente, mais elementos enriquecedores descobrimos. E isso não tem nada a ver com "relativismo", percebe?! Estar atento a que um mesmo fato possa apresentar inúmeras versões não diminui, ao contrário, potencializa nossa capacidade de aprendizado.
Mudar o mundo. Eu quero isso. Você - provavelmente - também. Se quiser, pode-se ir lá no Timor Leste, na Tanzânia, no Vietnã. Se preferir, também há o interior do Nordeste, da Amazônia ou bairro pobre de sua cidade. O que considero, porém, é que, com experiências assim, muito mais mudamos o nosso mundo do que os lugares, propriamente. E é isso mesmo. Educar é provocar novas miradas. Mudamos o mundo quando mudamos nossos olhares e ajudamos a outras pessoas a também fazê-lo. Afinal de contas, o mundo é da cor dos seus olhos!
Abaixo, sugiro um texto que enriquece essa ideia. Boa de ser sempre trabalhada com as juventudes!
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Mudando o mundo
Uma vez, logo no começo de minha vida profissional, levei um impresso para um cliente aprovar. Era um folheto que mostrava um loteamento numa cidade do litoral de São Paulo. No verso eu havia desenhado – na verdade feito um cartum - um mapa mostrando os caminhos para chegar até a tal cidade. Quando o cliente – um senhor de idade - viu o mapa, ficou fulo! Começou a gritar, dizendo que o mapa não tinha proporções, que uma estrada estava mais curta que a outra, que as cidades não estavam na localização correta, que aquilo estava tudo errado e tinha que ser feito de novo. O homem ficou uma fera e pela expressão do rosto do pessoal que trabalhava com ele, saquei que a coisa era séria. Já antevendo o prejuízo que eu tomaria se tivesse que fazer a arte e os fotolitos outra vez, arrisquei uma explicação ao indignado:
- Senhor fulano, este mapa é apenas ilustrativo. É só uma indicação artística para dar uma idéia de onde fica o loteamento.
O homem soltou um “ah, é artístico?”. E imediatamente parou de bufar, mudou a carranca para um quase sorriso e aprovou o folheto. E eu, que um segundo atrás estava tomando um esporro, não entendi nada...
Anos mais tarde é que fui compreender o que havia acontecido. Minha argumentação mudou a perspectiva do cliente, fazendo com que ele olhasse a situação sob outro ângulo.
Na teoria cognitiva, “perspectiva” é a escolha de uma referência a partir da qual procedemos à decodificação de uma experiência. Quer ver como é?
Uma vez ouvi uma história deliciosa sobre uma criança de oito anos que, durante um vôo comercial, corria pelo corredor, batia nas pessoas, fazia barulho, não parava quieta. É uma história que ilustra perfeitamente a questão da perspectiva. O sujeito que me contou, disse assim:
- “Os pais do moleque, moderninhos, deixavam o filho livre. O demônio quase derrubou meu laptop e uma xícara de café do sujeito que estava na poltrona ao lado. Até que um passageiro perdeu a calma e deu uma descompostura nos pais do garoto. Muito a contragosto os pais prenderam o moleque pelo cinto de segurança na poltrona e o obrigaram a ficar quieto. Então o diabinho começou a chorar, gritar e espernear. O escândalo era pior do que a bagunça pelos corredores, transformando o vôo num inferno. Aumentei o volume do fone de ouvido, mas não adiantou. De repente uma colega que estava sentada à minha frente chamou a aeromoça e lhe disse alguma coisa.
A aeromoça deu um sorriso e foi à cabine do piloto. Curioso, perguntei para a colega o que ela havia dito à comissária, e ela respondeu:
- Em vez de tentar resolver o nosso problema, deveríamos resolver o problema da criança.
Minutos depois o co-piloto apareceu no corredor e perguntou para o menino se ele gostaria de pilotar o avião. O diabinho olhou para o pai e para a mãe, sem acreditar no que ouvira. E pronto! Durante quase todo o resto do percurso o garoto ficou na cabine de comando, fingindo que pilotava o avião. E ninguém mais ouviu um pio do pentelhinho.“
Em vez de olhar o problema por nossa perspectiva, aquela moça olhou pela perspectiva do moleque...
Mudando a perspectiva, mudamos o mundo.
Luciano Pires
Fonte: http://www.portalcafebrasil.com.br/artigos/mudando-o-mundo
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Na raça e na paz Dele,
J. Braga.
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