Novembro - Mês do Reino: Cadê o Reino de Deus?

Você sabe que na oração do Pai-Nosso tem uma hora em que fazemos um pedido um pouco difícil de entender: “Venha a nós o vosso Reino”. Parece estranho falar de “reino” hoje em dia. No Brasil não temos rei. Vivemos em uma república democrata. Tivemos um período de Império, mas cada vez mais nos distanciamos dessa experiência monárquica. Ficou para os livros de história.

O povo de Israel, bem antes de Jesus, era governado por reis que deveriam ser ungidos, ou seja, eles sabiam que seu poder vinha de Deus (cf. 1 Sm 2,10). Mas nem sempre os reis governaram segundo os desígnios de Deus. Tornou-se até comum que fossem repreendidos por profetas como Amós, Natan, Isaías, Jeremias, Ezequiel, entre outros. O conhecido rei Davi, apesar de toda a reverência que ainda se faz a ele, foi um dos que mais recebeu severas repreensões (cf. 2 Sm 12,1).

Dizem que os apóstolos Pedro e Judas Iscariotes eram “zelotas”, espécie de partido político que desejava imediatamente livrar-se do domínio do Império Romano, mesmo que fosse necessário pegar em armas. Os “fariseus”, por sua vez, acreditavam que Deus daria um jeito em tudo se a Lei, os mandamentos, fossem rigorosamente cumpridos. Perceba que enquanto os zelotas desejavam a solução imediata, pelo uso até da força, os fariseus deixavam a solução nas mãos de Deus. Qualquer semelhança com o que acontece nos dias de hoje não é mera coincidência.

É nesse cenário que Jesus anuncia abertamente o Reino de Deus. No evangelho de Marcos é nada menos que a primeira palavra que sai da boca de Jesus (Mc 1,15a). Esse é o sentido desse pedido do Pai-Nosso: Deus está chegando e nós pedimos que “venha logo”. Vivemos nutridos por essa esperança da constante vinda de Deus. Aos que caem na tentação imediatista dos zelotas, Jesus diz: “O meu Reino não é deste mundo” (Jo 18,36). Por outro lado, aos que preferem a doutrina espiritualizante dos fariseus, Jesus ensina: “O Reino de Deus está no meio de vós” (Mt 12,28). Será que não há aqui uma contradição de Jesus?

É claro que não. O Reino de Deus já está entre nós, mas ainda não está em plenitude. É aquilo que estudiosos entendem como tensão entre o “já” e o “ainda não”. Nosso papel é apressar essa vinda na nossa história. Quando vivemos o amor incondicional, quando lutamos contra a injustiça, quando geramos comunhão entre as pessoas somos colaboradores do Espírito Santo que realiza o Reino de Deus no presente. É essa alegria, mas ao mesmo tempo essa saudade que nos faz rezar com voz forte e mãos ao alto: Venha a nós o vosso Reino!

Na raça e na paz Dele,
J. Braga

Referência: Pe. Joãozinho. O Pai-Nosso. Loyola, São Paulo, 2000.

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