Dogmas são enunciados abertos
Como já disse, dogmas são ENUNCIADOS humanos, declarativos, abertos e comunitários. Não são “sistemas”, não são tratados doutrinários, sequer teológicos. Tentando dizer de outra maneira: são declarações humanas – e comunitárias – do implícita e indiretamente Revelado pelo texto sagrado de tradição. Oferecem marcos e referências relativas à fé daquilo que uma comunidade de crentes considera relevante para sua identidade ekklesial (=assembléia).
A fórmula dogmática não pode se constituir num absolutum do tempo, da história, do lugar, da comunidade e do intérprete, ao contrário, é filha legítima de tudo isso e relativa a tudo isso. Ao mediar variações circunstanciais, a fórmula dogmática tem que ser revisada e reinterpretada para esclarecer seu sentido, aprofundá-lo, adaptá-lo e, se for o caso, complementá-lo.
Ilustrando com outro dogma: a “união hipostática” de Jesus Cristo. Essa é a expressão teológica do dogma que se refere às duas naturezas de Jesus: humana e divina, 100% humano e 100% Deus. Na Antiguidade algumas comunidades de cristãos optaram por crer apenas na natureza divina, outras apenas na natureza humana. A comunidade de cristãos que, hoje, corresponde à Igreja Católica foi a que decidiu crer nas duas naturezas. Esta ekklesia expressou esse enunciado usando a expressão “natureza”, sem elaboração de nenhum tratado teológico comprovativo, apenas um anúncio declarativo. Do ponto de vista de cada um desses grupos, os outros foram os “hereges”. Os outros decidiram não compartilhar dos “mínimos inegociáveis”. No caso, em questão, o enunciado sobre a “natureza” de Jesus que não aparece explícita nem diretamente nas Escrituras, mas que nesse determinado momento da história foi importante ser definido. Mas se hoje esse enunciado não satisfaz as demandas de sentido requeridos por essa comunidade, se a concepção de “natureza” não for mais pertinente, repropõe-se o dogma. Ou seja, ele permanece aberto.
Por fim, com a ajuda do Ludwig von Bertalanffy e sua "Teoria dos Sistemas" (Basicamente, a teoria de sistemas afirma que estes são abertos e sofrem interações com o ambiente onde estão inseridos. Desta forma, a interação gera realimentações que podem ser positivas ou negativas, criando assim uma auto regulação regenerativa, que por sua vez cria novas propriedades que podem ser benéficas ou maléficas para o todo independente das partes), reconheci como “sistemas abertos” as principais Religiões. Incrível como se encaixam bem na definição. Já os dogmas não, pois, repito, não são sistemas, mas apenas enunciados. Apenas axiomas.
Na raça e na paz Dele,
J. Braga.
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