Goretti, simplesmente líder!

Alta, postura firme, sorriso fácil e braços abertos. Essa é pró Goretti. Foi minha primeira impressão. Com ela aprendi demais. Me recriei como gestor-educador marista e, com permissão dela, partilho 7 aprendizados (entre dezenas) desse ano e pouco de convivência.


Aprendizado No. 1: Acolha bem as pessoas. Todas elas. Sempre. 
Dia 7 de maio de 2010 foi um dia muito importante para mim. Além de ter sido o dia que cheguei a Salvador para trabalhar no Marista Patamares, foi o dia em que conheci - de fato - a maior líder com quem tive a bênção de trabalhar. Goretti me esperava ao lado do vice-diretor administrativo do Colégio na área de desembarque do aeroporto. Fiquei surpreso. A acolhida que tive de outros gestores tinha sido bem "menos calorosa", digamos. Ir ao aeroporto me receber pessoalmente? Fiquei deveras surpreso. Depois conheci sua tradicional acolhida à porta do Colégio, toda semana. A todos os alunos. A todos os educadores. Ali começava uma série de aprendizados que falavam mais que qualquer livro. 

Aprendizado No. 2: Valide sua equipe publicamente.
Poucos meses depois de minha chegada ao Colégio, desprendia um considerável esforço para organizar, sistematizar e acelerar o processo de escola em pastoral que me foi solicitado tanto pela Província quanto por ela mesma em nossa primeira conversa formal na sala da Direção. Num período em que, com cuidado, tateava e adentrava Núcleos Pedagógicos, Serviços, Salas de Aula, Administrativo, e demais "territórios", em reunião de Conselho Pedagógico fui surpreendido por uma consistente palavra elogiosa e motivadora. Ela, coordenadora do antigo SOR que fora, sabia dos meus desafios e possíveis dificuldades. E, por mais que na frente dela estivesse apenas mais um jovem coordenador com aparente vontade de acertar, sem maiores indicadores concretos, não se furtou em dizer com ênfase, diante de todo o Conselho, que a comunidade educativa já percebia a "seiva" que a Pastoral começara a ser desde minha chegada. Naquele momento, foi importante me sentir validado. Fez diferença.

Aprendizado No. 3: Valide as pessoas individualmente, a vida delas é bem mais que trabalho.
Em outro episódio, passava pelo clímax de minha pior fase de desequilíbrio financeiro. Minha sensação de derrota na vida financeira acabou contaminando meu estado de espírito. Perceber a enorme distância entre meu salário e a quantidade de contas que tinha para pagar provocaram em mim uma frustração que me feria. O que há de pior para o orgulho masculino: a incapacidade de sustentar sua família. Eu estava péssimo. Numa segunda de manhã, bem cedo, fui à sala da Direção e abri meu coração para Goretti. O fato é que, de maneira surpreendente, ela - sem me dar um centavo ;) - levantou meu ânimo e me fez levantar daquela cadeira de uma outra forma. Não houve mágica. Até hoje meus problemas financeiros não foram totalmente solucionados, mas saí daquela sala sem sombra de dúvidas que conseguiria superar tudo. Era questão de tempo. Foi providencial receber aquele estímulo.

Aprendizado No. 4: Repercuta as coisas boas, reflita sobre as dificuldades mas não sentencie pessoas.
Não há vez em que alguém entre na sala da Direção que passe menos de vinte minutos, nem quando a intenção seja apenas tirar uma dúvida. Para Goretti, ter-nos com tempo, na sala dela, é uma oportunidade de ouro. Pede para sentar, quase manda. É hora de partilhar sonhos, projetos, alegrias, vitórias, conquistas, resultados positivos de todos os âmbitos e setores da escola, desde a medalha do aluno na Olimpíada de Geografia até um imbróglio de sala de aula resolvido exemplarmente pela professora dos pequenos. Trata-se de uma líder que não se conforma em deixar que as coisas boas da comunidade educativa fiquem restritas a 3 ou 4 pessoas. Não. Notícia ruim todo mundo comenta. É necessário contagiar a todos com as boas notícias, pois não são propriedade de alguns, mas de todos. E ela sabe comunicar otimismo. Quando o assunto não é lá tão favorável, tampouco há omissão, mas espaço de reflexão. Como solucionar aquela situação sem destruir ou desfazer pessoas? 

Aprendizado No. 5: Conflitos em escola são resolvidos no diálogo embebido de intencionalidade pedagógica.
Essa não aconteceu comigo. Foi numa das partilhas sobre as coisas boas, na sala da Direção, que soube. Dentre tantas outras, essa me fez entender melhor a identidade de Goretti. Foi uma situação delicada de certa mãe-sem-noção que invadiu uma sala de aula e destratou uma aluna, colega de seu filho, na frente de toda a turma. Em resumo, os pais - o marido juiz - quiseram resolver a questão via judicial, mas aceitaram uma última conversa com ela antes de um iminente processo. A palavra-chave de Goretti para esses pais foi: -"O que vocês querem de mim, como diretora? Que eu resolva a situação, certo?". Os pais concordaram. - "Pois bem, só que pra resolver isso tem que ser à minha maneira. Eu sou EDUCADORA, não entendo de Lei e, por isso, não é pela Lei que resolvemos as coisas aqui no Colégio (...)". Em resumo, por mediação dela, a mãe-sem-noção foi até a turma e, munida de uma pequena parábola sobre "perdão", pediu desculpas, diante de todas as crianças, pelo acontecido. Genial não?! Quanto aprendizado para todos os lados! Principalmente para os pais aprenderem que num espaço de educação, é por esse viés que resolvemos as coisas. 

Aprendizado No. 6: Comunique-se. Nunca deixe de valorizar o que precisa ser apropriado por todos.
Comunicar é um dom. Depois de conviver com Goretti entendi porque muitos processos numa escola do tamanho do Marista Patamares ocorriam de forma muito mais eficiente que escolas com a metade dos alunos. A comunicação talvez seja sua principal preocupação e talento. E o melhor, ela não só o faz, como excelente oradora, como tem a competência de saber ensinar como comunicar melhor. Tem que entregar um "papelzinho" para sua equipe? No ato da entrega, faça dele o documento mais importante e pertinente para os próximos passos do projeto de vida de seu interlocutor. Duvido que o tal "papelzinho" vire bolinha sem ter sido devidamente devorado e operacionalizado. Eis um dos pequenos grandes detalhes da comunicação dominados por Goretti.

Aprendizado No. 7: Mantenha mente e coração abertos. Sempre.
Há muito mais estórias, mas fecho com uma que sinaliza a jovialidade de Goretti. Foi da Missão Marista de Solidariedade, projeto sonhado por ela que tive a honra de ajudar a concretizar. O caso do famoso "Amarelinho": o ônibus escolar da Prefeitura de Várzea do Poço. Quando consegui o Amarelinho com o prefeito para levar mais missionários na Missão, foi uma vitória. Não tínhamos mais orçamento para outro ônibus e ter que dizer para alguns inscritos que não poderiam mais ir seria desastroso. Até pensei que era um ônibus bem mais velhinho, mas não era! Um novíssimo. Recém adquirido. Não era nenhum executivo, mas dava muito bem pra quebrar aquele galho. Pró Goretti se incomodou quando viu, na hora de viajar. Fiquei meio frustrado, não esperava aquela reação logo dela que já sabia do espírito da Missão. Abafado, cheguei até a pesquisar se conseguiria alugar um ônibus ou van de forma urgente. Passou meia hora. Percebi que depois da primeira impressão, a Pró assimilou que aquele ônibus representava o melhor de Várzea do Poço, segundo ela mesma expressou. E era mesmo. O município não dispunha de nada melhor que o Amarelinho. Ela se permitiu abrir àquela experiência, viajou no Amarelinho, apaixonou-se por ele e ainda fez uma reflexão belíssima sobre esse aprendizado. Essa permanente mente aberta ao novo é o que a preserva jovial.

É um registro para a posteridade, mas principalmente, uma singela homenagem. Me recriei como gestor-educador marista. Com ela aprendi demais. É minha derradeira impressão. Essa é pró Goretti. Alta, postura firme, sorriso fácil e braços abertos.

Na raça e na paz Dele,
J. Braga.

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